São Paulo, sexta-feira, 28 de outubro de 1994
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Alíquota de 20% prejudica montadoras

ARTHUR PEREIRA FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

A atual alíquota de 20% de Imposto de Importação sobre os carros importados é insuficiente para proteger a indústria automobilística brasileira.
Segundo os fabricantes, a defasagem cambial e a cobrança de impostos indiretos em ``cascata" sobre o produto nacional anulam o efeito do imposto cobrado dos importadores.
``Temos atualmente uma proteção de cinco pontos percentuais negativos", afirma, de forma irônica, Luiz Adelar Scheuer, presidente da Anfavea, a associação dos fabricantes de veículos.
Pelos cálculos de Scheuer, a desvalorização de 15% do dólar reduz a barreira tarifária para apenas 5%. Ele soma a isso os impostos indiretos –PIS, Cofins, Finsocial– cobrados em ``cascata" e que oneram a produção nacional em cerca de 10%.
``O veículo importado paga esses impostos apenas uma vez", explica José Carlos Pinheiro Neto, diretor de Assuntos Corporativos da General Motors.
Para Pinheiro Neto, a economia de escala também é uma desvantagem para a indústria nacional. Países como EUA e Japão produzem volumes maiores e podem ter preços mais competitivos.
A redução da alíquota apenas agravou a desvantagem da indústria instalada no país em relação aos concorrentes importados. Segundo Scheuer, mesmo se a alíquota fosse mantida em 35%, ``a proteção real ficaria em 10%".
As exportações também são prejudicadas pela carga tributária e pelo dólar desvalorizado. Pacifico Paoli, superintendente da Fiat Automóveis, maior exportadora do setor (US$ 700 milhões este ano), diz que exportar nesse momento ``não é mais um bom negócio".
``Continuamos a exportar porque temos que honrar compromissos. Acreditamos que a situação é apenas transitória".
As montadoras brasileiras já decidiram: não vão dar de presente o mercado do carro importado para as empresas de fora. Segundo a Anfavea, mais de 50% da produção mundial está nas mãos das suas matrizes.
A GM pretende ``agir de acordo com as regras", diz Pinheiro Neto. ``É uma questão mercadológica. Afinal, a GM é a maior fabricante de veículos do mundo."
O presidente da Volkswagen, Miguel Barone, prevê que 400 mil carros entrem no Brasil em 95. ``Desse total, 300 mil serão trazidos pelas montadoras", afirma.
Investimentos
A decisão do governo de reduzir a alíquota para a importação de carros provocou a decisão da GM de suspender os planos de construção de uma nova fábrica para produzir o Corsa.
``Primeiro queremos discutir com o governo a elaboração de uma política industrial para o país", diz Pinheiro Neto. Mas deixa claro: é apenas um adiamento, os planos não foram cancelados.
Outros investimentos continuam sendo feitos: a GM pretende ampliar a fábrica de São José dos Campos para fazer componentes. Vai também criar o terceiro turno para aumentar em mais de 30% a produção do Corsa no início de 95.
A Fiat trabalha na ampliação da capacidade de sua fábrica em Betim (MG). Uma quarta linha de montagem deve começar a funcionar nos próximos meses.
A Volkswagen investe na fábrica de Taubaté. A partir de fevereiro, a produção diária de Gol chegará a mil unidades. A Ford confirma o investimento de US$ 450 milhões para produzir o Fiesta a partir de dezembro de 95.
A produção de veículos no país deve crescer cerca de 15% este ano em relação a 93. Ficará perto de 1,6 milhão de unidades, novo recorde histórico.
Estudo da consultoria Booz-Alen sobre a indústria automobilística indica que as montadoras estão próximas do limite de capacidade.
As possibilidades de um rápido aumento de capacidade são limitadas. ``A construção de uma nova fábrica leva dois anos ou até mais", explica Silvano Valentino, presidente da Fiat do Brasil.

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