São Paulo, sexta-feira, 28 de outubro de 1994
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Meu capote por um ministro

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO – O presidente eleito passeou pela Europa com uma turma de jornalistas atrás. É do ofício. Do ofício, também, tentar saber ao menos o nome de um ministro do futuro governo.
Leio nas folhas que houve repórter disposto a trocar o capote pelo anúncio de um membro da próxima equipe –o pedido foi feito em tom dramático, parecido com o daquele rei que propunha: ``Um cavalo! Um cavalo! Meu reino por um cavalo!"
Não vejo importância em se saber o nome de quem vai ser ministro. A função baixou de nível. Dou o capote –que não estou usando nesses 38º que maltratam o Rio– a quem souber o nome e a função dos atuais ministros de Itamar. São boas pessoas, devem ser excelentes pais de famílias, esposos exemplares, pais amantíssimos, mas o gabarito médio é de secretário.
Itamar só teve um cara com cara de ministro, cara e garra até exageradas para isso: foi Fernando Henrique. O resto ficou na vala onde repousam todas as mediocridades –a começar pela do próprio Itamar.
Bem, poderão alegar que o atual ministro da Fazenda era até há pouco governador. Justamente dele veio a melhor revelação do que o governo pensa da sociedade: Ciro Gomes dividiu a boiada em canalhas e otários.
O primarismo da divisão explica a euforia do governo, que não se considerando canalha nem otário, vai e continua levando. Os problemas que aí estão, com os preços subindo e os artigos de primeira necessidade sumindo, são causados pela canalhice de uns e pela imbecilidade de outros.
Divididas as águas, o governo passa de pé enxuto entre as muralhas: nada tem a ver com os problemas.
Além do meu capote, dou um doce para quem adivinhar, sem colar, o nome de pelo menos cinco ministros. Outro dia, vi na TV um sujeito de aspecto respeitável, mal vestido embora, um rosto que irradiava honestidade e bonomia. Futuquei a memória para identificá-lo. Não deu pé. Salvou-me –não o Rhum Creosotado–, mas o locutor que em ``off" comunicou ser ele um dos ministros de Itamar.

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