São Paulo, domingo, 30 de outubro de 1994
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`Onda espanhola' invade tênis mundial

THALES DE MENEZES
DA REPORTAGEM LOCAL

O ranking da ATP divulgado esta semana coloca 11 espanhóis entre os 100 primeiros do mundo. A Espanha só perde para os EUA, atualmente com 24 tenistas.
Excluindo os EUA, que há duas décadas mantêm de 20 a 30 tenistas entre os ``top 100", o recordista anterior era a Suécia, com 9 jogadores em 1981.
Sergi Bruguera (nº 4) e Alberto Berasategui (nº 9) são os principais destaques masculinos dessa onda espanhola. No feminino, ainda não se pode falar numa ``invasão", mas o país tem as nº 2 e 3 do ranking, Arantxa Sanchez e Conchita Martinez.
Juan Tesco, 52, é um dos professores de tênis que trabalha com Lluis Bruguera (pai de Sergi), em Barcelona. Faz parte de um grupo que orientou a maioria dessa geração vencedora.
Ele foi o primeiro instrutor dos irmãos Sanchez –Emilio, Javier e Arantxa. A seguir, ele fala do bom momento do tênis espanhol em entrevista exclusiva à Folha.

Folha - Por que esse ``boom" espanhol, com 11 tenistas entre os 100 melhores do mundo?
Juan Tesco - Não é um pergunta fácil. Investimos nos juvenis, temos muito torneios internacionais no país, mas certas coisas são díficeis de explicar. Acho que o sucesso da família Sanchez foi um grande empurrão.
Folha - Você foi técnico de todos eles?
Tesco - Fui professor dos três, mas fui técnico apenas de Emilio. Javier e Arantxa passaram por minhas mãos ainda garotinhos.
Folha - Qual o melhor deles?
Tesco - Nunca comparo meninas e meninas. Arantxa é uma tenista fantástica, mas acho que Emilio é um jogador extraordinário, é mais completo.
Eu acho que o grande sucesso de Sergi (Bruguera) fez as pessoas esquecerem um pouco o que Emilio conseguiu. Ele foi ``top ten" três temporadas, tem uns 20 títulos conquistados. Só faltou a ele um troféu de Grand Slam. Sergi já ganhou dois.
Folha - Esses dois títulos foram conquistados em Roland Garros. O sucesso dos espanhóis depende das quadras de saibro?
Tesco - É o tipo de quadra em que começaram a jogar, acho que oito em cada dez quadras no país são de saibro. Mas é injusto falar que Emilio ou Sergi só jogam bem nessa quadra. Falavam isso de Arantxa há dois ou três anos. E hoje ela é campeã do US Open. Conchita venceu na grama de Wimbledon. Tênis é tênis, em qualquer piso.
Folha - Qual o futuro do tênis espanhol?
Tesco - Creio que estamos falando do futuro. Sergi, Arantxa, eles são muito jovens. Devem ficar no ranking até o fim da década. Não quero ser otimista demais, mas outros garotos devem subir para fazer companhia a eles.
Folha - Mas outros países têm bons resultados no juvenil e, no entanto, isso não reflete em bons resultados no profissional.
Tesco - É verdade. Mas existem outros fatores que ajudam o tênis espanhol. A maneira como nossos tenistas se comportam no circuito é outro fator importante. É o nosso jeito latino. Preservamos muito a amizade. Os tenistas espanhóis costumam acompanhar o jogo de seus amigos, torcendo para eles. É um apoio muito importante.
Folha - Isso não acontece apenas pelo grande número de espanhóis no circuito?
Tesco - Pegue o exemplo dos EUA. Às vezes mais da metade dos competidores num torneio são norte-americanos, mas é sempre cada um por si. No jogo entre Courier e Bruguera em Roland Garros, você podia ver os irmãos Sanchez desfraldando bandeiras pra apoiar Sergi, enquanto Courier estava abandonado.
Folha - Essa legião de tenistas parece se concentrar no masculino, não? No feminino, só Arantxa e Conchita se destacam.
Tesco - Tenho uma explicação para isso. A Espanha sempre teve grandes jogadores homens no passado, como Gimenez, Orantes, Higueras. O sucesso deles, que considero atletas excepcionais, casos isolados no esporte, gerou uma geração de meninos tenistas.
Acho que o sucesso de Arantxa vai fazer o mesmo com as meninas. Temos muitas jogadoras boas com 14, 15 anos. É só esperar.
Folha - A escola de Lluis Bruguera em Barcelona forja a maioria desses garotos?
Tesco - Os professores que trabalham para Lluis são muito procurados, mas existem muitas escolas interessantes no país. Acho bom que a maioria das estrelas espanholas tenha seguido a profissão de treinador. Orantes, Higueras e Gabriel Urpi são técnicos bem-sucedidos. Emilio e Javier devem seguir o mesmo caminho. Nos outros países, apenas os jogadores medianos se tornam técnicos.

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