São Paulo, domingo, 30 de outubro de 1994
Índice

`Bonita Lampião' descobre poesia rústica

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O espetáculo ``Bonita Lampião", que reestreou esta semana no Centro Cultural São Paulo, enfoca um tema que todo artista gostaria de explorar.
Mergulhando na história do cangaço, a bailarina e coreógrafa Renata Melo acabou seduzida pelo amor de Maria Bonita por Lampião. A mulher que abandonou o marido sapateiro para seguir o bandido marcado para morrer e com ele formar um casal mitológico ecoa como fonte inesgotável de símbolos e interrogações.
Em pouco mais de uma hora, Renata realiza quase uma suíte musical em torno da comunhão de opostos entre Bonita e Lampião. Do cenário ao gestual, tudo expressa a natureza rústica dos personagens. Mas, na versão de Renata, a poesia prevalece e dá unidade ao espetáculo.
Para Renata, que se destacou como coreógrafa do extinto Grupo Marzipan, ``Bonita Lampião" representa uma nova etapa. Dos inventivos esquetes urbanos coreografados para o Marzipan, ela se aventura, agora, na densidade e nos riscos do tema regional.
Perante a força da história, Renata não se contentou com os recursos da dança. Deslocou-se até o teatro, recorrendo à fala para declarar o caráter resoluto de quem se completa no outro mesmo que seja no inferno.
O que se pode chamar de dança ocupa posição discreta e secundária no espetáculo. Há achados simples e pungentes, obtidos apenas pelo rolar de corpos num chão ressecado do Nordeste brasileiro.
Não importa medir até que ponto ``Bonita Lampião" está ancorado no teatro ou na dança. Acima de tudo, é uma interpretação cênica precisa de uma história que, com excesso de meios, poderia incorrer na dispersão.
No papel de Lampião, o ator Plínio Soares cumpre talentosamente a tarefa de transmitir, sem apelos diretos, a simbiose entre bandido e herói.
Além do roteiro, direção e coreografia de Renata, ``Bonita Lampião" conta com o primoroso cenário de Daniela Thomas.
Homenageando a arte popular, Daniela faz do palco um cercado de madeira. Pequenos painéis pintados com arabescos lembram as carrocerias antigas dos caminhões. Envolvendo os personagens, essa arena traça limites de começo e fim, nascimento e morte.

Espetáculo: Bonita Lampião
Direção: Renata Melo
Elenco: Plínio Soares, Renata Melo
Onde: Centro Cultural São Paulo/sala Jardel Filho (r. Vergueiro, 1.000, tel. 011/277-3611, ramal 249)
Quando: de quinta a sábado, às 21h30, domingo, às 20h30
Quanto: R$ 4

Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.