São Paulo, domingo, 30 de outubro de 1994
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Livros tratam de relação com a direita

ANDRÉ FONTENELLE
DE PARIS

É vasta a bibliografia sobre Mitterrand. Mas nunca antes livros sobre o presidente da França causaram tanta polêmica quanto os dois mais recentes, que tratam de sua relação com a extrema direita.
São eles "Une Jeunesse Française" ("Uma juventude francesa"), de Pierre Péan, e "La Main Droite de Dieu" ("A Mão Direita de Deus"), de Emmanuel Faux, Thomas Legrand e Gilles Perez.
Péan –cujo livro é o mais vendido do ano na França– se limita ao passado até a Segunda Guerra. Faux, Legrand e Perez tentam mostrar que o passado continuou a influenciá-lo mais tarde.
Nascido numa família católica conservadora, de tendência monarquista, Mitterrand se ligou a estudantes de extrema direita.
O futuro presidente participou de manifestações de extrema direita em 1935 e 1936, como provam fotos da época. Mais tarde, colaborou em revistas de direita.
Preso pelos alemães na Segunda Guerra, fugiu em 1941. Funcionário do regime colaboracionista de Vichy até 1943, entrou então para a Resistência.
Nesse ponto, uma controvérsia. Mitterrand recebeu a Francisque, condecoração de Vichy, em 1943. Ele diz que era um álibi para atividades de resistente.
Mas suas amizades com ex-colaboracionistas continuaram após a guerra. Entre eles, René Bousquet, ex-chefe da polícia de Vichy.
Assassinado em 1993, ele foi responsável pela deportação de judeus para a Alemanha na guerra. O presidente afirma tê-lo conhecido após a guerra e rompido relações ao saber do passado anti-semita.
Mas, já nos anos 50, havia documentos que acusavam Bousquet. Ministro na época, dificilmente Mitterrand podia ignorá-los.
Outro caso: de 1986 a 1991, o presidente enviou uma coroa de flores ao túmulo do marechal Philippe Pétain, dirigente do regime colaboracionista de 1940 a 1944.
François Mitterrand afirma que as flores eram para Pétain, o herói da Primeira Guerra.
Por fim, ele teria votado pela execução do comunista francês Fernand Iveton, defensor da independência da Argélia, acusado de terrorismo em 1957.
Na época, Mitterrand era ministro da Justiça e fazia parte do conselho de magistrados que julgavam tais casos. Iveton foi executado.
Qual o voto de Mitterrand? "Não posso dizer", respondeu a Faux, Legrand e Perez. Outro membro do conselho diz que ele votou pela execução. Em 1981, Mitterrand aboliria a pena de morte da França.
(AFt)

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