São Paulo, domingo, 30 de outubro de 1994
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Mitterrand orientou guinadas dos socialistas

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Dez anos antes de chegar à Presidência, François Mitterrand reunificou o Partido Socialista e colocou em prática a única receita que lhe permitiria chegar ao poder: aliar-se aos comunistas do PCF (Partido Comunista Francês).
Era preciso, para tanto, reorientar seu partido para uma visão de classe e desenferrujá-lo de um passado pouco dignificante, exemplificado pelo engajamento na guerra colonial na Argélia.
Mitterrand obteve êxito nesses dois aspectos e foi com eles que obteve 51,76% dos votos a 10 de maio de 1981.
O Partido Socialista tem hoje um perfil político diametralmente oposto e Mitterrand foi o principal artífice dessa guinada.
"O capitalismo está incrustado no Estado", diz em suma a resolução do Congresso de La Defense (1991), no qual o PS se situa, em termos europeus, ao lado das agremiações mais moderadas da Internacional Socialista.
O partido reduziu o espaço de seus ex-aliados comunistas e, com isso, cumpriu uma tarefa na qual a direita havia fracassado nos últimos anos da Guerra Fria.
Personalização
A doutrina cedeu o lugar à personalização. A luta interna pela emergência de um sucessor de Mitterrand na esquerda é uma crônica com muitas baixas recentes.
O presidente francês chegou a acenar para Jean-Pierre Chevènement, líder da tendência cogestionária, a seguir para Lionel Jospin e Jean Poperin –ambos próximos a ele– e até a Michel Rocard, que foi seu primeiro-ministro.
Investiu explicitamente, a seguir, em Bernard Tapie, empresário de enriquecimento rápido e duvidoso. Não era um integrante do PS, mas do MRG (Movimento dos Radicais de Esquerda), que tem pouco de radical, menos ainda de esquerda.
O PS, enquanto isso, foi enfraquecido pelos escândalos sobre a arrecadação ilícita de fundos eleitorais. Perdeu o capital ético que adquirira na crítica a seus adversários antigos. Banalizou-se.
É hoje uma máquina debilitada pela derrota nas eleições legislativas do ano passado. Ele e seus aliados da esquerda tiveram a bancada na Assembléia Nacional reduzida de 275 cadeiras, obtidas em 1988, para apenas 67.
O socialismo francês desde então não conseguiu sair do fundo do poço. Mitterrand está com câncer e em fim de mandato. O final do PS pode ser patético.
(JBN)

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