São Paulo, domingo, 30 de outubro de 1994
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Rádio aluga suas ondas para direita e esquerda

CLÁUDIO JULIO TOGNOLLI
ENVIADO ESPECIAL A MIAMI

O que há de comum entre o padre progressista Jean-Bertrand Aristide, presidente do Haiti, grupos anticastristas cubanos baseados na Flórida e organizações de extrema direita vietnamita?
A rádio Miami International, respondem os ouvintes de rádios de ondas curtas.
Ao preço de US$ 200, Aristide transmite suas mensagens, duas horas por dia, a uma audiência que deixou de ser seleta.
Os programas do presidente haitiano são ouvidos por 30% da população das ilhas caribenhas e 3% da população de cada país latino americano –um total aproximado de 15 milhões de pessoas.
``Esse tipo de transmissão é sucesso garantido, tenho horário cheio sete dias por semana", diz Jeff White, 35, proprietário da Miami International.
Sintonizando na faixa de 9.955 khz, em 31 metros, é possível capturar as transmissões de Aristide intercaladas com as dos grupos extremistas Junta Patriótica Cubana e Alpha 66, que esporadicamente invadem Cuba na tentativa de assassinar Fidel Castro.
Além desses grupos, ainda dá para se ouvir na rádio as chamadas do Vietnam Restauration Party, uma agremiação de extrema direita que luta contra o governo comunista do Vietnã.
Risco
O que torna ainda mais atrativa a programação da rádio Miami International é que algumas reportagens são repassadas via telefone, por correspondentes que, caso descobertos pelo poder local, correm risco de vida.
``Ser correspondente da rádio é uma profissão de alto risco. Já tentaram matá-los quando descobriram que eles estavam trabalhando. Isso já ocorreu em Cuba e no Haiti", diz Jeff White.``Agora evitamos transmitir ao vivo".
Mesmo tendo voltado ao país, Jean-Bertrand Aristide continua usando a Rádio Miami International para ter garantia de que suas mensagens continuarão a ser ouvidas em todo o mundo.
Jeff White recebe uma média de 500 cartas por semana comentando a programação de Aristide. Algumas chegam da China, do Brasil, Rússia e até mesmo do Havaí.
No caso dos programas cubanos, pode-se ver o resultado em Havana: ultimamente as paredes da capital têm sido pichadas com um ``X", uma forma inventada pela rádio para protestar contra a ditadura de Fidel Castro.
O governo cubano não tem mais divisas para embaralhar as transmissões da Miami International, um processo eletrônico que custava cerca de US$ 80 mil por dia dos cofres cubanos.
Mercado
E não é de espantar que partidos tão diferentes quanto os progressistas haitianos e os conservadores vietnamitas façam uso desses serviços para divulgação.
No ano passado, o ``World Radio Handbook" (Manual de Rádio Mundial) divulgou uma pesquisa segundo a qual há 177 milhões de rádios de ondas curtas na América Latina.
O universo dos transmissores é de 126 rádios, que chegam a transmitir 25 mil horas semanais de programas, em 180 idiomas diferentes para o mundo inteiro.

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