São Paulo, quarta-feira, 2 de novembro de 1994 |
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Você acha o Pelé burro ou inteligente?
BARBARA GANCIA
Faço essas perguntas perniciosas só para colocar lenha na fogueira do assunto mais discutido do momento: o livro "The Bell Curve". Em síntese, a pesquisa contida no livro conclui que brancos são mais inteligentes do que negros; que pessoas com QI alto têm mais chances de ascender na camada social e que é uma perda de tempo gastar dinheiro para educar gente de baixo QI. Só queria entender por que o livro está sendo tratado como novidade. Será que os autores Charles Murray e Richard J. Hernnstein não estão dando o que falar porque souberam usar de refinado oportunismo para colocar o dedo na ferida mais dolorosa da sociedade norte-americana –a divisão que ela faz entre vencedores e perdedores? Não é notável que um assunto tão batido quanto as diferenças entre pretos e brancos, ricos e pobres, esteja em voga justamente agora, quando a muralha que separa os "winners" dos "loosers" ameaça desmoronar sobre o "american way of life"? Aliás, esse negócio de discutir a eficácia de testes de QI é coisa da época do avião a lenha. Por acaso o teste de vestibular consegue avaliar se o candidato irá concluir a faculdade? O teste de QI também não indica grande coisa. Limita-se a aferir a capacidade de raciocínio, ignorando, por exemplo, aptidão atlética e musical. E como é possível concluir que não adianta gastar dinheiro para educar pessoas de baixo QI? Que eu saiba, ninguém ainda conseguiu provar que o QI de uma pessoa não sofre alterações ao longo da vida. Uso um exemplo prosaico para mostrar que nem tudo é preto ou branco: sei de vários novos-ricos paulistanos que gastam uma nota em carros importados, mas, por não saberem dirigir, os destroem antes de rodar 1.000 km. Usando o raciocínio da curva do sino eles são inteligentes, pois pertencem à camada que usou a inteligência para ascender. Usando o meu, são trogloditas que têm uma ervilha no lugar do cérebro. Excluindo o fator ambiental, se inteligência e dinheiro andassem de mãos dadas com brancos e burrice e pobreza com negros, Pelé já teria caído no esquecimento há anos. E a Xuxa não seria uma moça tão infeliz. Texto Anterior: Contru fecha indústria por falta de segurança; O NÚMERO; Desarticulada quadrilha de roubo a carros na PB; Acusados da morte de músico são apresentados Próximo Texto: Cópia carbono ;Quem será? ;Quando eu digo... Índice |
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