São Paulo, quinta-feira, 3 de novembro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ciro afirma que está pouco ligando para apoio da Fiesp

LILIANA LAVORATTI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro da Fazenda, Ciro Gomes, disse ontem que está "pouco ligando" se a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) o apóia ou não.
Em entrevista coletiva realizada em Brasília, onde passou o feriado, Ciro afirmou: "Estou pouco ligando se a Fiesp me apóia ou não. Quero ser apoiado pela população e pela minha consciência".
O ministro fez esta declaração segundos depois de ter afirmado desconhecer afirmação feita anteontem pelo presidente da Fiesp, Carlos Eduardo Moreira Ferreira. Segundo Ferreira, a entidade apóia o plano e não o ministro.
Ciro voltou a usar o seu vocabulário não-usual para um ministro e chamou de "ladrão quem cobra ágio e otário quem paga". Responsabilizou o consumidor pelo aumento de preço do frango.
Ele afirmou que não mudará seu estilo, "apesar do esforço de grupos do setor privado que tentam me descaracterizar".
Segundo ele, esses grupos privados estão tentando caracterizá-lo como "grosseiro, truculento e sem controle das palavras".
Cesta básica
O ministro responsabilizou os consumidores –"que do outro lado do balcão se dispõem a pagar"– pelo aumento dos preços da carne de frango.
Segundo ele, dentro de 20 dias os preços da carne bovina, outro item que pressionou a alta da cesta básica, estarão normalizados.
Estilo
O ministro afirmou que o Ministério da Fazenda "mudou de lado" em relação à inflação –para colocar-se contra ela. "Durante muitos anos a Fazenda esteve ao lado dos interesses inflacionários, agora este lugar mudou de lado".
Ciro também garantiu que vai "para casa como a mulher do piolhento", referindo-se a uma piada popular do Ceará. A expressão é usada para designar alguém teimoso e persistente.
Mesmo se afogando, amordaçada e de mãos amarradas, conta a piada, a mulher conseguiu continuar chamando o marido de piolhento, esfregando as unhas dos polegares.
Empresários
Ciro destacou os empresários paulistas entre os que reagiram contra as medidas do governo para baixar preços e conter o consumo.
"A redução das alíquotas do Imposto de Importação aparentemente foi impopularíssima, pela reação violentíssima de certos setores da av. Paulista", ironizou.
Inflação
O ministro afirmou que é "conversa fiada" atribuir importância à expectativa inflacionária dos agentes econômicos na formação dos índices de preços.
"Sou o ministro da contracultura de todas as conversas fiadas criadas ao longo do tempo no Brasil", afirmou Ciro. Segundo ele, no índice de inflação previsto para outubro –entre 2,5% e 3%–, "não há nenhum centésimo de expectativa", uma alusão à suposta confiança da população no plano.
Desindexação
Ciro disse que a intenção do governo é avançar com segurança na desindexação total da economia. "Precisamos tirar todos os remanescentes da indexação", afirmou.
Consórcio
O ministro disse que o governo não vai flexibilizar as regras dos consórcios, restritos a 12 meses. "As exceções podem ser feitas, mas não há nada em estudo".
A Folha apurou que o alongamento dos prazos dos consórcios está sendo analisado pela equipe econômica.

Texto Anterior: Oposição funérea
Próximo Texto: Empresários evitam polemizar
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.