São Paulo, quinta-feira, 3 de novembro de 1994 |
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Beineix e Collard fazem a mistificação do nulo
BERNARDO CARVALHO
Ambos fazem parte daqueles que procuraram enxergar alguma coisa nos últimos anos, sem muito sucesso. O primeiro estourou no início dos anos 80, com "Diva", dando uma marca publicitária ao pós-modernismo cinematográfico francês, de um artificialismo e uma afetação sem escrúpulos. O segundo estourou no início dos anos 90, com "Noites Felinas", transformando sua experiência autobiográfica com a Aids numa ode narcisista. Collard, que morreu após terminar o filme, representou de certa forma uma reação a Beineix, tentando alcançar um pouco mais de vida, um pouco mais de real. Mas se confundiu nessa procura, fazendo a glorificação de si mesmo, interpretando sua própria vida como martírio diante das câmeras. Nesse sentido, há até mais honestidade e humildade na procura de Beineix em "IP5 - A Ilha dos Paquidermes", tentando romper –inutilmente– com fetichização dos artificialismos que garantiram seu sucesso. O cineasta coloca um velho, um rapaz e um menino pelas estradas da França em busca de alguma coisa, que pode ser uma mulher ou um sentido –como no caso do próprio Beineix–, mas seus olhos parecem definitivamente embotados pelos vícios e os clichês de seu cinema. E, na falta de uma relação mais direta com a vida, acaba apenas reproduzindo a mistificação do nulo. Vídeo: IP5 - A Ilha dos Paquidernmes Diretor: Jean-Jacques Beineix Elenco: Yves Montand, OLivier Martinez e Sekkou Sall Vídeo: Noites Felinas Diretor: Cyril Collard Elenco: Cyril Collard, Romane Bohringer e Carlos Lopez Distribuição: Abril Vídeo (tel. 011/832-1555) Texto Anterior: Velhice e adolescência aparecem em comédias Próximo Texto: O homem é seu próprio carrasco Índice |
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