São Paulo, quinta-feira, 3 de novembro de 1994
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Abertura cubana

Cuba decidiu abrir a sua economia. Trata-se, é claro, de uma tentativa quase desesperada de salvar um modelo que, a cada dia que passa, chafurda mais e mais.
Parece difícil, porém, que o grande capital aporte em massa à pequena ilha caribenha. Sua população de 10,8 milhões de habitantes hoje bastante empobrecida pela crise está longe de constituir-se num mercado muito promissor.
Pior de tudo, porém, é que o embargo comercial imposto por Washington a Cuba impede que bens produzidos na ilha venham a ser comercializados nos EUA, que seriam seus parceiros naturais.
Paradoxalmente, porém, Cuba exibe, ainda, invejáveis indicadores sociais que, nas Américas, só podem ser comparados aos dos EUA, Canadá e de algumas nações menores do Caribe. Com uma expectativa de vida de 76 anos, mortalidade infantil de 11 por mil nascidos vivos e um índice de analfabetismo de apenas 6% (dados do Banco Mundial), Cuba está de fato bastante próxima dos EUA, onde também se vive em média 76 anos, morrem 9 crianças entre mil nascidas vivas e os analfabetos não passam de 5%.
É evidente que esses excelentes indicadores não justificam em hipótese nenhuma o regime ditatorial imposto por Fidel Castro. Há que ressaltar ainda que a ilha só conseguiu conquistar esses índices graças aos generosos subsídios que a ex-URSS lhe oferecia.
O fato é que, hoje, a crise econômica compromete esse sistema social, que tantas vítimas cobrou no campo dos direitos humanos. O pior é que quem paga a conta não são nem os ideólogos de Washington, que insistem em manter o embargo sobre a ilha, nem Fidel e seus partidários, que não cedem um milímetro nas reformas democratizantes. Quem paga a conta é, como sempre, a população.
Abrir a economia é sem dúvida um passo. Mas ainda há tudo a fazer no campo das reformas políticas. Do lado dos EUA, também, há que se reconsiderar a questão do bloqueio que atinge apenas inocentes. Já é hora de o mundo sepultar definitivamente a última chaga aberta pela Guerra Fria.

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