São Paulo, quinta-feira, 3 de novembro de 1994
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Por que Rossi vai vencer

LIBERATO CABOCLO

Não resta qualquer dúvida que os meios de comunicação têm sido extremamente severos com o candidato Francisco Rossi e bastante generosos com o sr. Mário Covas. Tudo se passa como se as qualidades do sr. Mário Covas não fossem suficientes para lhe assegurar a vitória, tornando-se necessária a destruição não só da figura política, mas também da figura humana de Rossi.
Inconscientemente, o "sistema" confessa a fragilidade do seu candidato e reforça o temor ante a perspectiva de uma vitória de Rossi. O leitor-eleitor já deve estar de orelha em pé, e certamente atento para o fato de que a vitória de Rossi já deixou o campo das hipóteses e se transformou numa realidade.
As acusações contra Rossi são tão inconsistentes e contraditórias que tangenciam os limites do ridículo. De saída, condena-se o misticismo de Francisco Rossi. Tudo se passa, tudo é tratado como se as citações místicas fossem novidade entre os políticos e se a participação política das instituições religiosas não fosse a tônica neste país.
Quem não se lembra da Igreja Católica, tendo à frente o cardeal d. Jaime Câmara, dando total e irrestrito apoio à vocação golpista antidemocrática da velha UDN, marchando com "Deus e pela liberdade", celebrando um golpe ditatorial que arrastou este país a um período de trevas? Mas o místico é o Rossi.
Quem não sabe que as comunidades eclesiais de base foram, têm sido e são o suporte do Partido dos Trabalhadores e que os ministros da Igreja Católica fazem campanha ostensiva em favor dos candidatos do PT? Agora, pedir apoio ou aceitar o apoio de uma instituição religiosa é atitude de desrespeito. E o místico é o Rossi.
Lula, na sua campanha eleitoral, operou o milagre da transubstanciação; ou seja, transformou o pano vermelho da bandeira do PT no sangue de Cristo. Mas o místico é o Rossi.
Ninguém chamou a atenção do milagre operado por Fernando Henrique Cardoso na última campanha. O ateu de 1985, que perdeu a eleição para a Prefeitura de São Paulo, se transformou num fervoroso devoto de São Judas Tadeu, com direito a entrevista com d. Paulo Evaristo Arns, às vésperas da eleição neste fantástico show da vida. Mas o místico é o Rossi.
A única pessoa que nos lembrou que Fernando Henrique Cardoso era ateu foi a desastrada Ruth Escobar quando o comparou a Sartre. Maldito inconsciente. Sartre era ateu e não tinha qualquer dúvida –Deus está morto! FHC operou o milagre da ressuscitação. Ressuscitou, não o filho, mas o próprio Deus no seu coração. Mas o milagreiro é o Rossi.
Não menos místico é o irrequieto ministro Ciro Gomes. Mandou os juros para o céu, quem sabe tentando purificá-los. Glória aos juros nas alturas e paz na Terra aos banqueiros de boa vontade, na campanha do PSDB. O Bamerindus agradece!
O ministro Ciro é mesmo um místico. O canal de irrigação que ele fez no Ceará tem uma concentração de sal tão alta, que não há dúvida: parece ter se cumprido a profecia de Antônio Conselheiro –o sertão virou mar!
Ciro deve ser filho de Iemanjá e sua existência deve estar ligada às coisas do mar. Desde que assumiu o Ministério da Fazenda, os preços ficaram deveras salgados e o plano começou a fazer água. Mas o milagreiro, o místico, é o Rossi.
A tônica mística parece ser característica dos tucanos. A sua estrela maior operou o milagre da multiplicação das aposentadorias. Consta que tem seis. Ou seja, uma para cada dia da semana. Como todo o Deus que se preza, no sétimo dia descansou. Mas o místico é o Rossi.
Agora, o senador Mário Covas promete redimir os homens de todos os seus pecados. Vai converter o senhor Afanásio Jazadji num líder pacifista. Transformará o ex-ministro Cabrera num grande social-democrata, descollorindo os seus matizes neoliberais. Ao Vadão Gomes mostrará que a carne é fraca, embora a especulação seja forte. Covas tem linguisticamente algo a ver com o juízo final. Mas o místico é o Rossi.
Outra acusação é que o senhor Francisco Rossi não tem um programa de governo. Mas fazer um plano de governo nessa altura dos acontecimentos é como pretender fazer um plano de reconstituição de Hiroshima, antes que a bomba atômica acabe a explosão. Ainda estão espocando as cargas e os cargos em todo o nosso São Paulo. Ninguém sabe a extensão da catástrofe. Talvez sejam necessários quatro anos para remover os escombros.
A história não se repete. É um todo contínuo, nos ensina Hegel. Durante muito tempo bastarão os dez mandamentos. Assim caminha a humanidade!

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