São Paulo, quinta-feira, 3 de novembro de 1994
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Johannesburgo prefere trabalho em lugar de lazer

FERNANDO ROSSETTI
DE JOHANNESBURGO

Johannesburgo é uma das poucas cidades grandes do mundo que não tem mar, rio ou lago por perto. Surgiu a partir da descoberta de ouro na região, em 1886.
Essa origem econômica de seus 9 milhões de habitantes é determinante na vida que se leva hoje em dia em Johannesburgo. É um lugar de trabalho, não de lazer.
Com um centro quadriculado, destinado apenas ao comércio, a cidade se espalhou planejadamente para fora, distribuindo, à moda do apartheid, as diferentes etnias.
Assim, os brancos de Rosebank, bairro tipo Jardins de São Paulo, ao norte, têm seus próprios cinemas, shoppings e parques. A maioria tem piscina em casa.
Os negros de Soweto, por sua vez, têm uma infra-estrutura frágil. Lá, o único espaço que às vezes promove apresentações culturais mais produzidas é o Diepkloof Protea Hotel, que geralmente não consta nos manuais turísticos.
Exceto o centro, a cidade é toda horizontal e as distâncias a percorrer são longas. O sistema de transporte público não funciona –há poucas linhas, com ônibus a cada 30 minutos, no mínimo.
Os táxis custam em média 25 rands (R$ 7), de bairro a bairro, e têm de ser chamados pelo telefone. Uma corrida do centro a Soweto custa cerca de R$ 30.
Se a idéia for ficar mais de uma semana na cidade, sai mais barato alugar um carro. Guia-se do lado esquerdo da rua. Carteiras de habilitação brasileiras são aceitas como internacionais. O trânsito é como seu modelo inglês, civilizado.
Os johannesburguenses acordam e dormem cedo. Trabalham mais de manhã. É comum ver duas pessoas em um almoço de negócios tomarem uma garrafa do bom vinho sul-africano.
Às 15h, começa o "rush" de volta para casa. Praticamente todo o comércio fecha entre as 16h e 18h –inclusive shoppings. Depois das 22h, é necessário se informar onde há restaurantes abertos.
A Rocky Street, em Yeoville, nordeste da cidade, é a rua com a vida noturna mais agitada. Bares, restaurantes, lojas de arte e artesanato, algumas abertas 24 horas, se sucedem em dois quarteirões.
É também o local de tráfico de drogas, que vão da "dagga" (pronuncia-se "darra"), a maconha local, à cocaína, heroína e LSD.
Entre Yeoville e o centro fica Hillbrow, o bairro mais violento da cidade. Lá há a maioria das casas de striptease e prostituição.
Yeoville e Hillbrow são os bairros mais mistos em termos de composição étnica da cidade. Os negros que atualmente se mudam de Soweto vão para lá.
Soweto fica 20 km a sudoeste do centro. Aparece após uma curva na avenida principal (M1) e se estende até o horizonte com as casas e barracos de seus 4 milhões de habitantes negros.
As minas de ouro também ficam ao sul. Gold Reef City é um dos principais pontos turísticos da cidade, onde se pode visitar uma dessas minas por R$ 10.
O bairro de Newtown, no centro, tem algumas das melhores atividades culturais.
Há lá o Museum Africa, que conta 'à verdadeira história da África do Sul", o Market Theater, com peças africanas de rua, o bar Kippies, com jazz ao vivo até a meia-noite, entre outros.
Pouco depois de Newtown há um bairro indiano onde fica o Oriental Market, com produtos da Ásia, muitos deles baratos.
Come-se boa comida portuguesa na cidade. A maioria da comunidade portuguesa do país, de 1 milhão de pessoas, vive em bairros da região sul.

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