São Paulo, domingo, 13 de novembro de 1994
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Maioria apóia Exército e ocupação de morro

FERNANDA GODOY
COORDENADORA DE REPORTAGEM DA SUCURSAL DO RIO

O comando do Exército no combate à criminalidade e ao tráfico de drogas no Rio é apoiado por 86% dos moradores do Estado, segundo pesquisa Datafolha realizada nos dias 7 e 8 deste mês.
Sete dias depois da assinatura do convênio entre os governos federal e estadual que transferiu aos militares a coordenação das ações antiviolência –e antes que qualquer resultado tenha sido obtido–, a população fluminense se mostra disposta a apoiar maciçamente a ação das Forças Armadas.
Mais da metade da população (52%) acha que os soldados devem subir e ocupar os morros. Outros 42% julgam ser mais conveniente que os militares se restrinjam a apoiar as ações da polícia.
O percentual de moradores favoráveis à ação nos morros é menor na capital: 48%, contra 53% no interior. Este índice chega a 57% entre os que vivem nas demais cidades da região metropolitana, excluída a capital.
As pessoas mais escolarizadas tendem a ser mais céticas quanto a uma intervenção direta do Exército. Na faixa que chegou à universidade, só 39% querem ver os militares subindo morros, enquanto a maioria (51%) prefere vê-los em operações de apoio.
No espectro político-ideológico, a entrada em cena do Exército é apoiada por ampla maioria de eleitores de todos os partidos. Os petistas são os menos entusiasmados, sendo 76% favoráveis e 18% contrários.
E, para quem apostou nos eleitores do general Newton Cruz como os mais pró-intervenção, aqui vai uma surpresa: é no ninho do tucano Marcello Alencar que se encontra o mais sólido apoio aos militares.
Os eleitores de Marcello (PSDB) são favoráveis ao comando militar na proporção de 90%, contra 86% vindos daqueles que escolheram o general Cruz (PSD) no primeiro turno da eleição para governador.
Priorioridade total
A segurança é prioridade número um para 69% dos moradores do Estado do Rio. Entre os habitantes da capital, onde se concentram os problemas de violência, este percentual sobe para 73%.
A segurança –ou melhor, a falta dela– aflige os entrevistados da capital quatro vezes mais do que o desemprego, que aparece em quarto na lista dos principais problemas, com 18% dos votos.
Só as péssimas condições da saúde pública rivalizam com o problema da segurança no imaginário do morador da cidade: 68% apontam a saúde como um dos principais problemas a serem resolvidos pelo novo governador (leia texto nesta página).
Os culpados
O Datafolha apresentou aos entrevistados três sugestões de responsáveis pelo crime organizado no Rio de Janeiro.
Corroborando tese defendida pelo ex-governador Leonel Brizola e pelo atual chefe do Executivo fluminense, Nilo Batista (ambos do PDT), 36% das pessoas que vivem no Estado do Rio apontaram a Polícia Federal como a principal responsável pela situação.
Segundo a formulação apresentada pelo Datafolha, a Polícia Federal seria responsável por "não impedir a entrada de drogas e armas no país".
Outros 22% preferiram acusar primordialmente as polícias civil e militar do Estado, que estariam "em parte envolvidas com traficantes e contrabandistas".
A população não se exime de uma parcela da culpa: 14% dos entrevistados disseram acreditar que os principais responsáveis são "os consumidores de drogas que compram dos traficantes.

A pesquisa Datafolha é um levantamento por amostragem estratificada, com sorteio aleatório dos entrevistados. Esse levantamento entrevistou 1.627 pessoas entre os dias 7 e 8 de novembro em 38 municípios do Rio de Janeiro. A direção do Datafolha é exercida pelos sociólogos Antônio Manuel Teixeira Mendes e Gustavo Venturi.

LEIA MAIS
Sobre violência no Rio, nas págs. 4-11 e 4-12.

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