São Paulo, domingo, 13 de novembro de 1994
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Economista vê futuro com otimismo

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

Em junho deste ano, Antonio Kandir lançou "O Brasil Real - a construção da cidadania, da moeda e do desenvolvimento" (editora Klick), um livro derivado de sua tese de doutorado na Universidade Estadual de Campinas. Produção acadêmica, o texto trazia pelo menos uma boa idéia, a de explicar a inflação brasileira por um conjunto de fatores que determinavam o "desequilíbrio financeiro estrutural do setor público".
Idéia boa, porque escapava de um debate repetitivo no qual se tentava descobrir qual era a verdadeira causa da inflação brasileira: o déficit público? os pagamentos da dívida externa? o conflito distributivo? a indexação?
A proposta de Kandir foi mostrar como todas essas causas atuavam ao mesmo tempo, numa combinação complexa e explosiva. Mostrou ainda como a ação política, ou seja, a atuação do governo, do Congresso e da sociedade, era outra causa, pois tendia a tornar permanente o desequilíbrio financeiro do setor público.
Embora fosse livro de academia, tinha vocação operacional. A idéia claramente era derivar da tese para propostas de política econômica. Nesse sentido, "Brasil Século 21 - Tempo de Decidir", é uma continuação.
Kandir apanha cada uma das diversas partes do problema geral, analisa e sugere saídas.
Já não se trata de um livro de academia. É um manual de ação prática. Formado basicamente pelos artigos publicados na Folha, aos domingos, no caderno Finanças, traz um ensaio inédito que desenha cenários para os próximos seis anos.
Kandir, que participou dos primeiros 14 meses do governo Collor, como secretário de Política Econômica, se alinha entre os que propõem a abertura da economia, privatizações, integração nos mercados mundiais, enxugamento e modernização do Estado.
Também está entre os que consideram a inflação como o problema número um. Acredita que a estabilização, por si, não garante o desenvolvimento econômico. Mas que não há desenvolvimento sem estabilidade da moeda.
Assim, apóia o Plano Real, mas insiste nas reformas estruturais, da economia ao sistema partidário.
Como todo economista que parte para a ação política, Kandir (que foi candidato a deputado federal pelo PSDB de São Paulo) é um otimista. Não poderia ser de outro modo. Quem não acredita que dá para resolver os problemas, não quebra a cabeça procurando saídas.
Esse otimismo aparece quando Kandir traça cenários para os próximos seis anos. Um é francamente positivo. Parte do pressuposto que o próximo presidente manterá o real e fará as reformas estruturais. Nesse caso, 1995 seria um ano de ajuste e daí o país partiria para um novo ciclo de crescimento sólido, com inflação anual de 5%.
Quem pensou que esse é o cenário FHC-presidente, acertou.
Mas mesmo quando pensa o cenário Lula-presidente, Kandir não imagina desastres. Prevê turbulências em 1995, inflação voltando a explodir, mas acredita que em 1996 o governo faria reformas, parcialmente.
Nesse cenário, a inflação anual seria de 31%, o crescimento um pouco menor, mas firme até o ano 2000.
Idéia geral: não é fácil, mas o Brasil está muito perto de acertar o passo. Tomara.

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