São Paulo, domingo, 13 de novembro de 1994
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Exportador: de herói a vilão

ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES

Tenho ficado cada vez mais impressionado com o caráter conflitivo que vem marcando este país. É a criminalidade no Rio; a violência no futebol; a depredação de telefones públicos; a pichação das cidades e agora, mais recentemente, guerra às exportações.
Enquanto as exportações brasileiras representam 1% das exportações do planeta e cerca de apenas 10% de nosso PIB, as exportações mundiais se aproximam de US$ 4 trilhões em confronto com um PIB mundial de US$ 20 trilhões.
É bem verdade que a eleição de Fernando Henrique Cardoso nos encheu de maiores esperanças e o Brasil parece despontar de grande credibilidade perante os países do Primeiro Mundo. Se por um lado isto é confortador, por outro uma nova guerra interna se avizinha.
A entrada diária de grandes somas de dólares em nada nos conforta. Muito pelo contrário, preocupa, e muito, os produtores de nossa terra.
Infelizmente, estes recursos aportados não são destinados à criação de empregos, o que poderia amenizar o grande problema social que hoje enfrentamos. Lamentavelmente, grande parcela destes recursos é de caráter especulativo, pois enquanto o investidor ganha lá fora cerca de 5% ao ano, seu capital no Brasil rende na ordem de 60%.
Ora, quanto maior a irrigação de dólares em nosso país, maior será a tendência de queda do seu valor em relação ao real.
Desta maneira fica extremamente vantajosa a importação de produtos que até mesmo são fabricados no Brasil. Se por um lado esta política obriga os produtores nacionais à manutenção de preços baixos, por outro lado facilita em demasia a entrada de produtos, principalmente do Primeiro Mundo.
Resumindo-se, esta política traz alegria aos produtores estrangeiros e cria, ao mesmo tempo, uma enorme perplexidade entre os que aqui produzem, pois a queda excessiva do valor do dólar em relação ao real elimina em grande parte a capacidade de competir dos brasileiros. Vitória dos produtores estrangeiros que não param de sorrir e tristeza absoluta dos nacionais que vêem a possibilidade de exportar cada vez mais longe.
Sempre fui e serei favorável à derrubada das proteções aduaneiras. Todavia, enfrentar uma supervalorização do real e a criação de um imposto para o financiamento dos contratos de câmbio, certamente, a médio prazo, levará a indústria nacional a uma situação das mais difíceis.
Será que os exemplos de destruição das indústrias nacionais que foram levadas a efeito em países vizinhos não nos servem de exemplo?
Continuo a acreditar no Plano Real e o nosso maior desejo é fazer desaparecer de uma vez por todas a inflação e a intermediação em nossa nação. Cautela com os intermediários, que são os criadores de regulamentos e que só visam o seu próprio enriquecimento, torna-se absolutamente necessário.
Não fora as exportações, hoje representando 75% entre manufaturados e semimanufaturados, a crise de desemprego no Brasil teria sido muito maior do que a atual.
Mais do que nunca continuo acreditando no Brasil.

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