São Paulo, domingo, 13 de novembro de 1994
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JOGO DE CENA

SÉRGIO DÁVILA

Futebol e teatro são uma caixinha de surpresas. Pelo menos para Bia Lessa, 36, rubro-negra fanática. A diretora paulistana (radicada no Rio de Janeiro) acaba de montar "Futebol", sua 15ª peça, em cartaz até dezembro no Teatro Popular do Sesi. Vem lotando desde a primeira sessão, em 26 de outubro.
"Também, é de graça", dizem os detratores. "Também, é linda", responde Bia, 1,49 m, que não teme vaia de arquibancada nem leva desaforo para a casa –um apartamento no bairro carioca de Santa Tereza. Sua linha de ataque é formada por: sucesso; seriedade; e polêmica, esta última com a camisa 10.
"Futebol", a peça, surgiu na vida de Bia Lessa da mesma maneira que futebol, o jogo: por paixão. "Sou uma torcedora atípica", diz ela, que vai a estádio, torce para o Flamengo e anda desiludida com a venda do atacante Marcelinho para o Corinthians. "Não fico na torcida, não me incomodo com o 0 a 0 e não sofro se o meu time joga mal. Gosto da arte."
A surpresa: a direção do Sesi ligou para ela há um ano e meio, pedindo para Bia dizer três sonhos seus que gostaria de ver no palco. Eles montariam um. Bia embatucou. "Um dia, vou ter de montar um Shakespeare", pensou. "Um Nelson também não cairia mal", continuou.
No momento do telefonema, ela e seu marido, o ator Dany Roland, assistiam a um compacto de Flamengo e Vasco. "A TV estava especialmente nítida naquela noite", lembra ela. Roland falou: "Bia, futebol!" Ela: "Claro, futebol!". E montou a peça, com texto de Alberto Renault e elenco paulistano.
Polêmica, "Futebol" não foi bem aceita pela crítica, mas já conta com admiradores. Na quarta-feira 2 de novembro, por exemplo, um grupo de dez pessoas da periferia comparecia pela sexta vez ao Sesi. "Faço teatro de pesquisa, sério, mas tenho público", diz ela. "Não como 'Trair e Coçar', mas tenho."
Com cenário simples, a obra conta o que seria a invenção do ludopédio. No elenco, a veterana Geórgia Gomide e dois estigmas: o ator Carlos Moreno (eterno Garoto Bom-Bril) e a atriz Maria Luísa Mendonça (eterna Buba, da novela "Renascer"). "A escolha nunca foi tão intuitiva, tão anárquica", diz Bia.

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