São Paulo, segunda-feira, 14 de novembro de 1994
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Favelas de SP crescem 15% ao ano

ELVIRA LOBATO
DA REPORTAGEM LOCAL

Um em cada cinco moradores de São Paulo vive hoje em favelas. A cidade mais rica do país está em processo acelerado de favelização. São 1,9 milhão de pessoas, em cerca de 2 mil favelas.
A população favelada de São Paulo aumenta 15,16% ao ano (sete vezes mais rápido do que o restante da cidade), segundo estudo feito pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da USP). Em 1980, a proporção de favelados era de um para 20 .
A explosão da violência nas favelas do Rio, provocada pelas quadrilhas organizadas de tráfico de drogas, despertou o receio de que crise semelhante venha a se instalar na capital paulista.
A cúpula da Polícia Civil e os delegados responsáveis pelos distritos policiais mais violentos da cidade (Capão Redondo, Parque Santo Antônio e Jardim Míriam, na zona sul) afirmam que o tráfico nas favelas paulistas não está sob o controle de quadrilhas organizadas como nas do Rio.
A principal diferença entre as duas cidades estaria no fato de que a distribuição pesada da droga em São Paulo se daria fora das favelas, enquanto nelas haveria apenas o chamado tráfico para abastecimento local e das imediações.
Outro fator que torna as favelas de São Paulo diferentes das do Rio é o poder policial paralelo exercido pelos matadores. Eles ocupam o vácuo de autoridade criado pela omissão do Estado.
Segundo moradores, eles não aceitam o roubo nas favelas e quem desobedece pode ser expulso ou executado. No Rio, este papel é exercido pelo traficante.
"O papel de Robin Hood, que aproxima os traficantes dos favelados cariocas é exercido pelos matadores em São Paulo. Aqui não há nenhuma identificação entre o traficante e o favelado e isso diminui o poder do traficante", diz o cientista político Guaracy Mingardi, que passou dois anos como investigador de polícia, para estudar o assunto.
O delegado Carlos Cavallini, chefe do serviço de informação do Denarc (Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos) diz que em São Paulo há pelo menos 3.000 pontos de venda de drogas, mas a maior parte é abastecida por traficantes pequenos.
"Não há traficante famoso nem disputa de quadrilhas por território nas favelas de São Paulo, como ocorre no Rio ", diz Cavallini.
Para a Polícia Civil, a topografia das favelas de São Paulo dificulta a ocupação das áreas por quadrilhas de traficantes nos moldes cariocas. A maioria é plana e com vários acessos, o que facilita a entrada de policiais.
"Aqui, a polícia consegue entrar em qualquer favela, mas o bandido tem mais medo do matador do que do policial", admitiu à Folha o delegado André Dahmer, 34, do 92 DP, no Parque Santo Antônio, região com 300 mil moradores e 12 favelas.
André Dahmer afirma que um terço dos assassinatos foram cometidos por traficantes, outro terço por matadores profissionais e o restante têm origem diversa.
Há duas semanas, foi preso na região, um dos maiores matadores que já agiram em São Paulo: o paraibano João dos Santos, 33, conhecido como João Balaio. Segundo o delegado, ele admitiu já ter matado mais de 50 pessoas e foi preso quando tentava matar três pessoas, perto da delegacia.
O delegado diz que não tem recursos para combater o crime na região e que o "Estado deveria fornecer segurança à esta população, mas é omisso". Segundo ele, o 92 DP só tem cinco carros e quando algum quebra são os empresários locais que pagam o conserto.
O delegado diz ter a informação de que há vários matadores agindo na região, entre eles José Ferreira Campos (o Zé Prego), que fugiu do COC (prisão de segurança máxima do Carandiru) em janeiro deste ano.

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