São Paulo, segunda-feira, 14 de novembro de 1994
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Quatro novos rappers estréiam em CD

MARCEL PLASSE
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Disco: Illmatic
Artista: Nas
Gravadora: Columbia/Sony Music
Disco: Funkdafied
Artista: Da Brat
Gravadora: So So Def/Sony Music
Disco: It Takes a Thief
Artista: Coolio
Gravadora: Warner Music
Disco: Blunted on Reality
Artista: Fugees
Gravadora: Warner Music
Preço: R$ 18,00 (o CD, em média)
Se o rap é a "CNN negra", como disse Chuck D, em 1988, as reportagens parecem se concentrar no estado devastado dos guetos, que otimistas chamam de comunidades negras. Quatro novos "repórteres" debutam na cobertura do fronte.
Coolio vem de Compton, na área de Los Angeles, conhecida como a pátria do "gangsta rap". De Compton vieram os contos de assassinatos, ódio a policiais, misoginia e assaltos à mão armada de grupos como NWA (Niggas With Attitude) e CMW (Compton Most Wanted). Mas para Coolio, Compton significa apenas "lar".
No LP de estréia, "It Takes a Thief", o rapper lembra com amargura o drama que é passar os dias chapados, numa vizinhança de drogados, com apenas um saco de pipocas para comer. Revelando um humor amargurado, no tom das comédias de Richard Pryor, Coolio consegue achar graça em situações típicas da área: o fato de ficar com as peruas mais feias, porque não tem dinheiro para impressionar as gatas, ou a cara das mães que descobrem as filhinhas saindo com gângsteres.
Ex-integrante do grupo WC and the M.A.A.D. Circle, Coolio conserva o amor por funks lentos da área, mas destoa bastante da glamourização do gangster praticada pelos demais rappers de Compton.
Ela surgiu cantando no LP "Da Bomb" (1993), de Kriss Kross, e seu disco de estréia, "Funkdafied" parece uma reunião de adolescentes com problemas. Integrantes do Kriss Kross, Da Bush Babees e Xscape –todos crias do produtor Jermaine Dupri– contribuem com vocais.
Apesar do apelido (brat é moleca), ela não é criança. Tem 20 anos e pronuncia seu nome como "Da Brat-tat-tat-tat", celebrando a música da sub-metralhadora Uzi.
Nas vem do conjunto habitacional de Queensbridge (uma Cohab nova-iorquina). Seu primeiro LP, "Illmatic", usa algumas das melhores metáforas do rap para falar dos negócios que comandam a periferia –drogas, crime e religião–, combinadas com o tipo de sample assobiável que muitas vezes falta ao hardcore –de Michael Jackson (sample de "Human Nature") a jazz.
Desde a década passada, Nova York não via surgir um rapper tão talentoso. Com a ajuda dos produtores Pete Rock, Q-Tip (do grupo Digital Underground) e DJ Premier (parceiro de Guru no grupo Gang Starr), Nas vem sendo comparado a Rakim (da bem-sucedida dupla Eric B & Rakim).
O trio Fugees faz uma linha sem palavrões, mas não esquece a violência, principalmente a praticada contra imigrantes. O grupo (sediado em Nova Jersey) é formado por dois porto-riquenhos e uma americana (Lauryn Hill, atriz de "Mudança de Hábito 2").
Apesar da rapper arriscar um "scat" (estilo vocal do jazz), a principal influência do LP "Blunted on Reality" são reggae e ritmos das Índias Ocidentais.
(MP)

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