São Paulo, quarta-feira, 16 de novembro de 1994
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Mata vira camping e local de estudos

VICTOR AGOSTINHO
ENVIADO ESPECIAL A GUARAQUEÇABA (PR)

Uma das últimas áreas preservadas da Mata Atlântica no Paraná, a Reserva do Morato, no município de Guaraqueçaba, vai receber visitas guiadas a partir de janeiro.
A decisão de viabilizar o turismo ecológico foi tomada na última sexta-feira pelo conselho da Fundação O Boticário, proprietária da reserva.
Ao todo, a Reserva do Morato tem 1.700 hectares (cerca de 1.700 campos de futebol). Nesta área particular moram apenas duas famílias, contratadas pela fundação para cuidar do núcleo da reserva. A reserva surgiu da junção de duas fazendas da região, a Figueira e o a Salto do Dourado.
Lectícia Scardino, 61, professora de sistemática botânica da Universidade Federal da Bahia, que estava no último fim-de-semana pesquisando a flora de Guaraqueçaba, afirma que existe no Morato uma repetição de espécies encontradas no que ainda resta da Mata Atlântica do sul da Bahia. "É impressionante. É uma continuação de Monte Pascoal."
Segundo o diretor técnico da Fundação Boticário, Miguel Milano, a partir de janeiro serão abertos ao público cerca de 2% da reserva. Os 98% restantes serão visitados apenas por pesquisadores.
"Queremos fazer aqui uma unidade de preservação modelo. Vamos montar um camping para apenas 12 barracas, um alojamento com pequeno laboratório para os pesquisadores, um museu e um núcleo de educação ambiental", diz Milano.
Atualmente, a pesquisadora Maísa Guapiassu desenvolve sua tese de doutoramento (Sucessão Vegetal em Área de Floresta Atlântica) na reserva.
Mas quem quiser conhecer algumas trilhas ou visitar o Salto do Morato –uma cachoeira de 70 metros de altura– sem ficar acampado na reserva poderá fazê-lo. A idéia é cobrar ingresso dos visitantes (algo entre R$ 3 e R$ 5) e com o dinheiro arrecadado fazer a manutenção do local.
Além da cachoeira, os atrativos da Reserva do Morato são a fauna, a flora e as nascentes de riachos. Já foram catalogadas 35 nascentes, mas deve existir o dobro, de acordo com Milano.
"Vejo muito macaco bugio, já vi veado-mateiro e cotia. Ontem mesmo vi o rastro de uma onça perto da minha casa. A danada arranha o chão a arranca as raízes quando anda", conta Pedro de Morais, 41, que mora na reserva desde que tinha 1 ano.
Dentro de três anos, a compra e a manutenção da reserva consumirá da Fundação Boticário US$ 600 mil, segundo Milano. Já foram gastos US$ 350 mil, investidos na aquisição da área.
A Fundação sobrevive com doações anuais de cerca de 5% do lucro líquido da empresa O Boticário.

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