São Paulo, sexta-feira, 18 de novembro de 1994
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13º injeta US$ 7 bi na economia

MÁRCIA DE CHIARA
DA REPORTAGEM LOCAL

Neste final de ano, pelo menos US$ 7 bilhões serão injetados na economia por conta do 13º salário. Trata-se da estimativa mais conservadora.
No mercado, há cálculos que indicam que o dinheiro que ingressará nos bolsos dos assalariados chegará a US$ 12 bilhões. Desse total, US$ 1,3 bilhão será pago aos trabalhadores da indústria paulista.
"Esse montante é proporcionalmente menor do que em anos anteriores, quando a inflação era elevada. É suficiente, porém, para esquentar ainda mais o consumo em dezembro", afirma Flávio Nolasco, economista da Brasilpar.
O encolhimento do 13º salário explica-se. A lei prevê que ao tirar férias o trabalhador pode antecipar a metade do 13º salário.
Quando a inflação estava na casa de 30% ao mês e o salário era corrigido automaticamente, o desconto do adiantamento do 13º salário não sofria correção e, no final do ano, tornava-se praticamente irrisório.
"Até o ano passado, o 13º salário funcionava como um 14º salário", diz Nolasco.
Em 1994, com a conversão dos salários para URV (Unidade Real de Valor) desde março e o fim da política salarial de reajustes automáticos, explica ele, o desconto da antecipação vai ser real. Isto é, vai pesar mais no 13º salário.
Nas contas de Nolasco, a massa de salários da indústria paulista em dezembro deste ano deve ser entre 5% e 6% maior, na comparação com os meses de outubro e novembro. Já em 1993, o crescimento foi de 8% no mesmo período.
Apesar de proporcionalmente menor em relação a outros anos, o ingresso dos recursos do 13º salário anima o comércio.
"Vai ser um Natal gordo. O comércio vai vender pelo menos 10% mais neste ano sobre dezembro de 1993", calcula Nelson Barrizzelli, economista da USP.
O Mappin, por exemplo, espera vender 20% mais neste segundo semestre em relação ao de 1993. Essa estimativa leva em conta o 13º salário, os dissídios coletivos e o crediário com prazos dilatados.
Joseph Couri, presidente do Simpi (Sindicato da Micro e Pequena Indústria) prevê crescimento entre 25% a 30% dos negócios neste Natal em relação ao do ano passado.
Para Barrizelli, não se trata de um crescimento "explosivo". Motivo: a base de comparação ainda é muito baixa.
Em sua análise, o poder de compra do 13º salário em 1994 é maior com o fim do imposto inflacionário. As classes C e D, por exemplo, diz ele, ganharam 20% no salário desde a entrada do real.
"O dinheiro do 13º salário vai pressionar a demanda", diz Nolasco. Mas, segundo ele, essa pressão já é esperada. Pode provocar problemas localizados no setor de eletrodomésticos e de eletrônicos.
A perspectiva, diz ele, é que a inflação fique em 2,5% neste mês. Em dezembro, o índice deve oscilar entre 1,8% e 2,2%, podendo recuar para até 1,2% em janeiro.
A maior oferta de produtos importados neste ano é apontada como um fator de peso para conter a alta dos preços em dezembro.
"Desde de julho, o país importa o dobro do que comprou no exterior em igual período de 1986, na época do Plano Cruzado", diz Nolasco. Entre julho e outubro, as importações somaram US$ 11,2 bilhões.
Tudo indica que a entrada maciça dos importados neste final de ano vai fazer os preços dos nacionais despencar em janeiro.
"Em janeiro deve ocorrer a maior liquidação da história", prevê Barrizelli. Normalmente, nesse mês o consumo esfria e a concorrência entre as lojas aumenta.

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