São Paulo, sexta-feira, 18 de novembro de 1994
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A vez dos Estados

O primeiro pronunciamento de Fernando Henrique Cardoso após o segundo turno das eleições, assim como sua manifestação logo depois do primeiro turno, ficou aquém das expectativas da sociedade de que o futuro chefe do Executivo traçasse com clareza as diretrizes que pretende imprimir ao seu governo. O presidente eleito prometeu ser mais específico apenas na sua despedida do Senado, prolongando uma indefinição desnecessária e pouco saudável que vem corroendo o otimismo e mesmo algo do capital político de que dispunha há um mês.
De todo modo, um aspecto abordado por FHC no seu pronunciamento merece ser destacado. Ele ressaltou corretamente a importância dos governos estaduais para a estabilização no Brasil, alertando os futuros mandatários regionais para o seu papel nesse processo.
De fato, o resultado do pleito desta semana reforça a mensagem claramente emitida pelas urnas do primeiro turno de que a população considera o combate à inflação como prioridade absoluta. E ninguém ignora o respeitável potencial desestabilizador de gestões estaduais perdulárias e irresponsáveis ancoradas em bancos estaduais cada vez mais debilitados. Não foi por acaso que o Banco Central há pouco teve de vir em auxílio do Banespa.
O Estado de São Paulo, aliás, oferece um exemplo ilustrativo da gravidade da situação. Como informou esta Folha, a gestão de Luiz Antonio Fleury Filho mais que triplicou a dívida do Estado. Seja porque aumentou mesmo o endividamento, seja porque tornou transparentes débitos antes camuflados, como alega, Fleury catapultou a dívida para cerca de US$ 26 bilhões só nos seus três primeiros anos de governo. Essa situação, lamentavelmente, espalha-se por todo o país e são muito poucas as unidades da Federação que exibem contas saudáveis.
A grave crise que os futuros governadores vão herdar só aumenta a sua responsabilidade de administrar de forma austera. Assim como FHC, eles têm o dever de combater a inflação. Já passa da hora de os governos estaduais começarem a cumprir a sua parte no esforço de estabilização que a sociedade já vem fazendo há muito tempo.

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