São Paulo, sexta-feira, 18 de novembro de 1994
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Limites para o vice-rei

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – O Tribunal Regional Eleitoral da Bahia deve decidir hoje se ordena ou não a recontagem dos votos da eleição para o Senado. O pedido de recontagem foi formulado por Waldir Pires (PSDB), que suspeita da votação obtida por um dos dois candidatos do PFL (Waldeck Ornellas, afinal eleito).
Trata-se de uma decisão que vai além das fronteiras baianas. Se o TRE aprovar a recontagem, dará uma demonstração, embora tímida, de que a Bahia não se transformou definitivamente em capitania hereditária de Antônio Carlos Magalhães, senador eleito.
Pode ser que não se descubra fraude alguma, se fraude houve. Mas, pelo menos, ficará a impressão de que nem ACM tudo pode. É uma demonstração importante, embora insuficiente, porque os métodos políticos do caudilho baiano são de uma prepotência intolerável para um país que se quer moderno.
Exemplo concreto e cruento: em comício em Oliveira dos Brejinhos, no interior do Estado, durante a campanha, ACM pregou, do palanque, a expulsão da cidade do prefeito, que chamava de "valentão". O prefeito é do PSDB. Dias depois, o presidente local do PSDB foi assassinado.
Não estou dizendo que ACM mandou matar o prefeito e o pistoleiro errou de alvo. Mas é evidente que esse tipo de discurso é uma nítida incitação à violência.
Agora, ACM anda dizendo que vai expulsar de Salvador a prefeita, Lídice da Matta (também do PSDB). Ameaça com um plebiscito para tanto. É típico caso de linchamento, por um motivo muito simples: com a repetidora local da Rede Globo (propriedade da família de ACM) atacando todo santo dia a prefeita, não há administração que resista.
Não tenho condições de avaliar a gestão de Lídice. Mas tenho certeza de que qualquer administrador que fique sob marcação cerrada de um canal local da Globo está destruído, porque muitas repetidoras nem sequer mantêm as aparências que a matriz às vezes conserva.
Tudo o que o Brasil dispensa é a truculência. Já teve o suficiente. E ACM sempre esteve do lado dela.

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