São Paulo, segunda-feira, 21 de novembro de 1994
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Música alta anuncia final da tensão

VICTOR AGOSTINHO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Logo após a saída dos últimos 23 soldados do Exército que ocupavam o morro da Mangueira, às 16h20, os moradores começaram a deixar suas casas e ir para as ruas.
Os acessos da favela pareciam formigueiro, de tanta gente. A música alta foi o primeiro sinal de que a tensão causada pela presença do Exército chegara ao fim.
O funk e o pagode se confundiam nos alto-falantes do Buraco Quente, uma das entradas da Mangueira.
Irritado, Dalmo José, 51, coreógrafo de mestre-sala e porta-bandeira da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, contou que teve que cancelar o "tradicional" show de transformistas que aconteceria hoje na quadra da Mangueira. "Tive que avisar que estava tudo cancelado por causa dos periquitos", disse, se referindo aos soldados.
O coreógrafo reclamou muito da truculência dos soldados: "Durante a revista eles mandaram que eu me comportasse como homem. Exijo respeito. Sou homossexual e me comporto do jeito que quiser."
Udison, 18, estudante, também se queixou, entediado das revistas a que foi submetido. "Já me revistaram sete vezes em dois dias. É só sair nas ruas que os soldados chegam junto". No primeiro dia da invasão, o estudante foi detido porque estava sem documento.

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