São Paulo, segunda-feira, 21 de novembro de 1994
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Ministros agem por conta própria e divergem no acerto da Petrobrás

LÉA DE LUCA

LÉA DE LUCA; SILVANA QUAGLIO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O acordo assinado pelo ministro Delcídio Gomez (Minas e Energia) e por representantes dos petroleiros na madrugada do último dia 10 expôs a total desarticulação entre os ministros do presidente Itamar.
Nenhum dos cinco ministros envolvidos na negociação falou a mesma linguagem e Ciro Gomes (Fazenda) mudou de posição no meio da crise.
A primeira trombada foi entre os ministros Delcídio e Marcelo Pimentel (Trabalho).
Delcídio negociou a maioria das cláusulas sem a concordância de Pimentel, como a liberação de 44 empregados sem perda de salário para a atividade sindical. Pimentel queria liberar apenas cinco.
Pimentel só se responsabilizou pela negociação das perdas do Plano Bresser, da garantia de emprego e do direito de defesa dos acusados nos inquéritos abertos pela Petrobrás contra os grevistas.
Ele se retirou da reunião antes do seu final e disse, depois do acordo fechado, que não haveria prejuízos ao Plano Real.
A declaração de Pimentel provocou a reação do ministro do Planejamento, Beni Veras, que saiu como guardião do Plano Real.
Para se segurar no confronto com o seu colega do Trabalho, Beni Veras buscou o apoio do ministro da Fazenda correligionário do PSDB e conterrâneo cearense.
Ciro, que foi consultado pelo telefone durante as negociações e depois do acordo disse não ver problemas para o Plano Real, foi convencido do contrário pelo amigo Beni Veras e passou a afirmar que endossava "cada palavra" do ministro do Planejamento.
Para Veras, o acordo foi "abusivo" e abre precedentes para uma avalanche de movimentos reivindicatórios em outras estatais.
Henrique Hargreaves, ministro da Casa Civil, declarou na quinta-feira que não havia acordo.
Segundo Pimentel, porém, o pagamento de dois salários adicionais a título de adiantamento das perdas do Plano Bresser –a cláusula mais polêmica do acordo– foi sugerida pela própria empresa.
Para Pimentel, essa concessão significou apenas uma troca: a empresa adiantava parte dessas perdas para evitar a greve.
Com a correção do adiantamento do 13º salário pela URV de junho, e não da data do adiantamento, a Petrobrás gastaria US$ 60 milhões. A greve podia custar US$ 1 bilhão ao mês, diz Pimentel.
A Petrobrás ofereceu o pagamento do Plano Bresser porque, na época, ela própria estava convencida de que teria que pagar essa diferença aos funcionários.
Coincidentemente, no dia da assinatura do acordo o TST revogou um parecer favorável ao pagamento dessas perdas. Com isso, os juízes deixam de se sentir moralmente obrigados a dar ganho de causa em ações aos trabalhadores.

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