São Paulo, segunda-feira, 21 de novembro de 1994
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Maeda diz que crise gera oportunidade de crescer

Saga da família teve início em fazenda de Ituverava

NELSON BLECHER
DO ENVIADO ESPECIAL

A bordo de um fusca 1.300, Takayuki Maeda percorria de madrugada, no início dos anos 70, os cerca de 400 quilômetros que separam Ituverava (SP) de Itumbiara (GO) para tocar as novas fazendas que comprava.
"Fui tocar na coragem." Por conta de uma crise que abalou a agricultura, glebas férteis de fazendeiros insolventes haviam sido transferidas aos bancos, que buscavam compradores.
Segundo afirma, bastava ter "ficha limpa" na praça para obter financiamento. Parte do dinheiro era gasto no sinal de 20%, que lhe garantia a escritura. O restante ele usava para comprar outra propriedade.
"A gente tem de crescer na crise. Quando está tudo bom, ninguém vende sua casa", ensina Takayuki que, desafiado por amigos, chegou a comprar três propriedades de uma só vez "em plena seca brava".
Primogênito de Tsunezaemon Maeda, Takayuki tinha três anos quando o pai, a mãe e seis irmãos chegaram a Ituverava, procedente de Sagaken, no Japão, para trabalhar como colonos na fazenda Santa Tereza.
Tsunezaemon, que havia sido barbeiro em Lima, no Peru, onde morou por 14 anos, acumulara dinheiro com o qual comprou casas e prédios ao retornar ao Japão.
Perdeu tudo ao avalizar, para um irmão, um carregamento de bambu para a Manchúria. Uma greve atrasou em meses o desembarque. O bambu secou.
Arrasado, Tsunezaemon decidiu emigrar para o Brasil, atraído por um anúncio que recrutava trabalhadores. O sogro, rico banqueiro, ainda tentou demovê-lo. Com orgulho de samurai, recusou uma oferta de dinheiro.
Até arrendar 30 alqueires da fazenda Cachoeira, em 1940, onde iniciaram a plantação de milho, arroz e algodão, os Maeda testemunharam o declínio do café e o aviltamento de preços de outros produtos. "Só não passamos fome porque Deus não quis", recorda.
Takayuki diz que apostou na agricultura "xingando o governo". E acrescenta ser "vergonhoso" que o país, auto-suficiente até 1986, tenha de importar praticamente a metade das 850 mil toneladas de algodão que consome este ano.
(NB)

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