São Paulo, segunda-feira, 21 de novembro de 1994
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'Reis' do algodão colhem US$ 106 mi

NELSON BLECHER
ENVIADO ESPECIAL A ITUMBIARA (GO)

Uma saga de sucesso da indústria de algodão vem sendo escrita, discretamente, pelos descendentes de Tsunezaemon Maeda, um japonês orgulhoso e aventureiro que desembarcou no interior paulista em 1927 para capinar café.
Este ano, a terceira geração dos Maeda vai colher faturamento acima de US$ 100 milhões, graças a uma fórmula que tempera tradição japonesa, técnicas do agrobusiness norte-americano e jeitinho brasileiro.
"Se os políticos diziam para plantar milho, eu plantava algodão", ironiza o patriarca Takayuki Maeda, 70, filho do imigrante Tsunezaemon. Takayuki, que se recupera de um derrame, conserva-se lúcido e bem-humorado.
"O segredo de meu pai foi caminhar sempre na contramão", resume Jorge Maeda, 43, que assumiu a vice-presidência do grupo em agosto de 1992, após a morte do primogênito Francisco e de outro irmão, Celso, em acidente aéreo.
Quando começou a colecionar terras férteis no eixo Ituverava-Itumbiara (localizadas, respectivamente, a 410 km ao norte de São Paulo e a 220 km a sudoeste de Goiânia), no início da década de 70, Takayuki era conhecido pelo apelido caipira de "Tião do Cerrado".
Trinta e sete fazendas depois, ele passou a ostentar também o título de maior produtor e beneficiador de algodão do país –da atual safra nacional de 483,1 mil toneladas, 7% provêm do grupo.
O império branco dos Maeda, que abastece com insumos um vasto complexo formado por indústrias de óleo de algodão, uma fiação e uma unidade de gordura vegetal, compreende 17 mil hectares.
Outros 16 mil hectares são dominados por plantações de soja e milho e criação de gado de corte.
Milhões multiplicados
O que chama atenção na trajetória do grupo é a recente evolução geométrica do faturamento. Era de apenas US$ 1 milhão em 1971, quando Takayuki desbravava o Centro-Oeste e chegava a dormir sobre sacas de adubo.
Elevou-se para US$ 45 milhões na década seguinte, saltou para US$ 75 milhões em 1993 e, este ano, deve alcançar US$ 106,6 milhões. A escalada coincide com a entrada do grupo no ramo industrial.
"Para nos proteger da inflação, era necessário dolarizar a receita. Contivemos a expansão agrícola e partimos para a verticalização", diz Jorge Maeda. Nessa virada, a Maeda tornou-se onipresente na cadeia de derivados da cotonicultura.
Em sociedade com a Triagro, opera a Cotton, que comercializa 150 mil sacas de sementes anuais, a maior do país. Está firmando uma joint-venture com uma das líderes norte-americanas do setor para difundir novas variedades de sementes.
Afirma deter 20% da produção de óleo de algodão e igual participação na de línter, a película que recobre a semente e dá resistência à celulose do papel-moeda.
Na outra ponta, planeja dobrar para 440 toneladas mensais a produção de fios da Fiação Ituverava, que utiliza modernos robôs japoneses.
O grupo recém-inaugurou uma fábrica de gordura vegetal, ingrediente indispensável na receita de alimentos industrializados e já sonha em armar parceria com um fabricante de margarinas para chegar às gôndolas.

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Sobre perfil do Grupo Maeda na pág. 2-5

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