São Paulo, segunda-feira, 21 de novembro de 1994
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Doença pode levar ao suicídio

DA REPORTAGEM LOCAL

Catarina, 16, é fã dos escritores Albert Camus e Herman Hesse e o primeiro show que viu na vida foi o do Nirvana. Duas semanas antes de seu ídolo Kurt Cobain se matar com um tiro, ela própria teve uma aproximação com a morte.
Abriu a farmacinha de casa e tomou um vidro inteiro de remédios. Quando viu que a coisa era séria, contou para a família. Foi levada para o hospital e salva. Pouco depois, tentou se matar no mar. "Mas estava muito calmo e eu desisti. Nenhuma das vezes eu estava a fim de morrer, só desabafar".
Começou um tratamento, com remédios, em dezembro de 93. Hoje só faz psicoterapia e toca em uma banda feminina de rock.
Catarina diz que, depois da morte de Cobain, ela sente o vocalista do Nirvana mais próximo. "Gosto de acreditar que ele é meu deus", diz. Nega que sua música tenha influenciado seu comportamento. "Música não tem nada a ver com depressão."
Dafne, 20, em tratamento psiquiátrico há quatro meses, arrebentou em julho a janela do quarto, se cortou e foi para o hospital.
Ela diz que, desta vez, não queria se matar. Aos 15, tomou um vidro de comprimidos.
Depois que se cortou, resolveu procurar ajuda. Toma antidepressivos e abandonou a faculdade e o trabalho, em uma loja nos Jardins.
Já voltou a trabalhar alguns dias por semana no restaurante dos pais e quer ser aeromoça.
"Aos 13 anos, mudei de escola. Meus pais se separaram. Não queria ir ao colégio, chorava. Minhas amigas não queriam me ver", diz a estudante Cláudia, 18.
Depois de passar meses dormindo a tarde inteira e chorando diariamente, começou a fazer terapia. Hoje está curada.
No caso de Aline, 22, a depressão apareceu aos 16 anos, durante um namoro conturbado.
"Foi o estado final de uma série de problemas e de um período de descobertas. Meu pai morreu quando eu tinha 11 anos", diz.
Passava o dia dormindo, só queria ficar em lugares escuros. Tomava calmantes sem receita e, quando saía, enchia a cara.
"Foi uma fase muito triste, mas vi que não estava sozinha. Recuperei minha auto-estima e autoconfiança. Hoje sou uma pessoa feliz, gosto de mim." Em janeiro, vai prestar vestibular para psicologia.

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