São Paulo, segunda-feira, 21 de novembro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Bob Dylan retorna ao passado acústico

DANIELA ROCHA
DE NOVA YORK

Bob Dylan ainda é o grande ídolo. Prova disso foi a disputa que se via nas portas do estúdio da Sony Music de Nova York, na última quinta-feira, quando lá acontecia a gravação do programa "Unplugged" para a MTV, que irá ao ar no dia 15, nos EUA.
Pontual, usando um terno preto e óculos escuros, Dylan entrou no palco com autoridade. Abriu a gravação com a balada "Tombstone Blues". O clima da apresentação foi extremamente profissional.
O show foi curto, apenas dez músicas. Dylan não falou nada à platéia. Se restringia, no máximo, a dar uma canja de alguns segundos no seu violão, entre a apresentação de cada música.
Na introdução da segunda canção, a romântica "I Want You", ficou mais forte o teor folk que acompanharia todos arranjos.
A banda, composta por John Jackson na guitarra, Brendan O'Brien nos teclados e guitarra acústica, Tony Garnier no baixo acústico e Winston Watson na percussão e bateria, contou com a participação especial de Bucky Baxter na guitarra.
O arranjo para "Don't Think Twice" contou com uma introdução fantástica de cordas –guitarras, violão e contra-baixo– e, no final dela, Dylan introduziu o primeiro e único instrumento de sopro do show, sua gaita, claro.
"Desolation", a quarta música, sintetizou a marca registrada que acompanha Dylan desde o início de sua carreira: a melodia simples e o tema introspectivo, melancólico da sua poesia.
O show foi intercalando de baladas folk, dançantes –"Hazel" e "Everything is Broken"–, com uma versão mais lenta de "The Times They Are A Changin", tocadas sob luzes amarelo-nostálgico e esverdeadas .
"God On Our Side" fechou a apresentação, após a balada-rock "Dignity" e de "Love Minus Zero". "God On Our Side" lembrava uma canção de ninar.
Pareceu uma escolha simbólica Dylan ter fechado o show com uma música em que lembra do seu tempo de menino no campo e de seus heróis. Como a uma homenagem ao passado e à cidade em que começou a trabalhar profissionalmente como cantor, Nova York.
Com "God On Our Side", Dylan terminou o show altivo. Tirou os óculos escuros e agradeceu sóbrio. Deixou o palco sob delírios da platéia, que aplaudia e batia os pés no chão, chamando-o de volta. Mas Bob Dylan decidiu fechar o show com um olhar sincero e não voltou mais.

Texto Anterior: Cab Calloway foi precusor do videoclipe
Próximo Texto: Cantor une poesia e folk
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.