São Paulo, segunda-feira, 21 de novembro de 1994
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Clinton e FHC

A trajetória do presidente dos EUA, Bill Clinton, especialmente a derrota sofrida nas eleições da semana passada para o Congresso, é outro exemplo de uma decepção com a política que parece universalizar-se. Das dificuldades européias nos plebiscitos para aprovação de Maastrich ao colossal desmonte do predomínio liberal-democrata no Japão, multiplicam-se os exemplos de divórcio entre elites e eleitorado nos principais centros mundiais.
No caso norte-americano, o Partido Democrata vinha predominando há décadas num Congresso profundamente desacreditado. Também pesou contra o presidente a sua incapacidade de mobilizar esse mesmo Congresso para iniciativas que marcaram sua campanha, especialmente no capítulo das reformas sociais. O fracasso democrata parece resultar, portanto, tanto da frustração de promessas quanto da morosidade do Legislativo.
No Brasil, tudo parece diferente. As últimas eleições fortalecem muito a Presidência da República, que ganha também maior apoio parlamentar e de governos estaduais.
Estão em jogo esperanças monumentais. A renovação traz consigo o risco de frustrações aqui tão rápidas quanto as do eleitor dos EUA.
FHC, embalado no calor da vitória, tem por enquanto atuado mais como um Getúlio Vargas, "pai de todos", credor de lealdades supostamente irreversíveis, do que como um Juscelino Kubitschek, empreendedor temerário que comprou muitas brigas, mas afinal mudou o país.
É interessante fazer política como "processo". Oportuno afastar temores de "choques". Mas, entre a cautela negociadora e a precipitação irresponsável, FHC ocupa ainda um limbo que, na prática, pode frustrar bastante as expectativas.

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