São Paulo, quarta-feira, 23 de novembro de 1994
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Nilo ironiza atuação das Forças Armadas

CRISTINA GRILLO; ANTONIO ROCHA FILHO
DA SUCURSAL DO RIO

O governador do Rio, Nilo Batista (PDT), fez ontem uma rápida avaliação das ações de combate ao tráfico nos morros cariocas. Para ele, as Forças Armadas "agora estão aprendendo o que significa 'enxugar gelo', estão vendo como é difícil e complexo" combater a ação dos traficantes.
Nilo falou durante a comemoração do primeiro aniversário do Centro Comunitário de Defesa da Cidadania, no morro do Pavão e Pavãozinho (zona sul), áreas que já sofreram ações militares.
No centro comunitário há serviços gratuitos de atendimento jurídico, identificação e um posto bancário.
O governador não quis comentar as declarações do porta-voz do Exército para a Operação Rio, coronel Ivan Cardozo, que disse que o Exército iria tolerar a presença dos "escalões inferiores" do tráfico no morro da Mangueira.
"Sou governador do Estado, não sou ombudsman de jornal para criticar declarações." Nilo ironizou a afirmação de que o tráfico voltou ao morro da Mangueira após a saída das tropas federais porque não havia PMs no local.
"Não vou polemizar. Dizem que o Estado não está lá. Então vou mandar construir um Ciep bem grande e uma vila olímpica para mostrar que o Estado está na Mangueira."
Nilo Batista criticou a OAB. Na segunda-feira, o presidente da entidade, José Roberto Batocchio, afirmou ter havido abuso de poder durante as ações militares no Rio.
O governador disse que "algumas pessoas" que agora questionam possíveis violações das garantias individuais não teriam "nenhuma legitimidade". Ele citou o presidente da OAB do Rio, Sérgio Zveiter, como uma dessas pessoas.
Zveiter havia defendido a decretação do estado de defesa antes da assinatura do convênio do governo do Estado com o governo federal.
O governador disse desconhecer a existência de prisões de pessoas por falta de documentos. Segundo ele, houve detenções momentâneas de pessoas que estavam sem carteira de identidade.
Afirmando não querer ser leviano na apreciação das ações das Forças Armadas, o governador citou o que considerou o único incidente até agora –o disparo feito por um fuzileiro naval no morro do Dendê, que atingiu um morador no braço.
Anteontem à noite, durante o programa "Entrevista Coletiva" da TV Bandeirantes, Nilo criticou a estratégia das Forças Armadas na ação nos morros.
"O modelo de operação de intervenção local, pelo qual optou o comando da operação, nós já fazemos e é uma coisa infrutífera."
Segundo o pedetista, a medida pode levar a prisões e apreensões, mas não é a solução. "É preciso fiscalizar as fronteiras para sufocar a entrada de cocaína e armas."
Ele afirmou que a ação das Forças Armadas não é a responsável pela diminuição no número de roubos de carros no Rio, diferentemente do que tem sido publicado por meios de comunicação.
Para Nilo, os números mostram diminuição de roubos desde março, e não em novembro, após o convênio com o governo federal. A queda seria resultado de uma ação mais eficaz da Polícia Civil.

Colaborou ANTONIO ROCHA FILHO, da Reportagem Local

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