São Paulo, quarta-feira, 23 de novembro de 1994
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Direitos são 'prejudicados', afirma general a vereadores

FERNANDO RODRIGUES
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

O general Roberto Jugurtha Câmara Senna disse ontem, segundo seis vereadores do Rio, que será inevitável desrespeito de normas constitucionais durante a operação de combate ao tráfico de drogas e ao contrabando e posse ilegal de armas.
Segundo os vereadores, que estiveram com Senna por aproximadamente duas horas, o general que comanda a Operação Rio disse:
"Infelizmente alguns direitos constitucionais serão prejudicados. Eu reconheço que está havendo um cerceamento das liberdades. Nós não somos um batalhão de assistentes sociais. É impossível evitar um ou outro excesso. É preciso às vezes ser duro, ríspido, na ponta da linha."
Os vereadores que estiveram com Senna são Fernando William (PDT), Jurema Batista (PT), Augusto Boal (PT), Chico Alencar (PT), Guilherme Haeser (PSTU) e Edson Santos (sem partido).
Ao saírem do encontro com o general, às 15h30, os seis parlamentares fizeram um relato minucioso da conversa. As frases foram ditadas à Folha a partir de anotações que os vereadores dizem ter tomado durante a reunião.
A Operação Rio é resultado de um convênio assinado em 31 de outubro entre os governos federal e estadual do Rio. Pelo acordo, o Exército comandará ações contra o crime no Rio até 30 de dezembro.
Em duas operações em morros no fim-de-semana no Rio, o Exército deteve 267 pessoas. Destas, 19 foram presas. Os mandados de prisão foram emitidos depois que os 19 já estavam presos.
Câmara Senna não dá entrevistas à imprensa. Seu superior, o general Edson Alves Mey, que dirige o Comando Militar do Leste, também se recusa a falar.
A Folha leu as declarações que Senna fez para os vereadores para o porta-voz da Operação Rio, coronel Ivan Cardozo. "As declarações são de inteira responsabilidade de quem as prestou", disse Cardozo, que não esteve na reunião de Senna com os vereadores.
Poucos resultados
Durante sua reunião com os vereadores, Câmara Senna teria dado a entender que pouco espera da Operação Rio até o final do ano.
Ao comentar um episódio no qual a PM se recusou a patrulhar a favela da Mangueira, após a saída do Exército no domingo, Senna teria dito: "Vamos ver o próximo governo. Esse aí já está no fim."
O general se mostrou insatisfeito com a eficiência do serviço secreto do Exército. Disse que o aparato foi desmantelado com o fim do regime militar (1964-1985).
"Na época do marxismo-leninismo, duas pessoas iam se reunir e a gente sabia no dia anterior. Ia lá e prendia. Hoje, não temos mais aparato para isso", disse Senna.
O general teria concordado, segundo os vereadores, sobre a necessidade de colocar advogados de defesa à disposição de pessoas detidas na Operação Rio. Esses advogados ficariam de plantão no quartel do Primeiro Batalhão da Polícia do Exército, destino inicial de todos os presos da operação.
O vereador Chico Alencar afirmou que o general foi "cordato" durante o encontro. "Demonstrou estar disposto a conversar", disse.

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