São Paulo, quarta-feira, 23 de novembro de 1994
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Hospitais querem doadores assíduos

SÉRGIO MALBERGIER
DA REPORTAGEM LOCAL

Bancos de sangue de São Paulo tentam mudar o perfil do doador para reduzir os riscos de transmissão de doenças como a Aids por transfusão sanguínea.
Nos EUA e Europa, 0,01% dos doadores de sangue são portadores do vírus HIV, causador da Aids. No Brasil, o número está entre 0,1% e 0,3%, segundo dados do hematologista Nelson Hamershlack, do Hospital Israelita Albert Einstein, de São Paulo.
Hoje a grande maioria dos doadores brasileiros são esporádicos, ou seja, geralmente fornecem sangue para repor o estoque usado em parente ou amigo e, em menor número, pessoas interessadas em fazer um teste de HIV rápida e gratuitamente.
Os bancos de sangue querem estimular os doadores regulares, que doam sangue duas ou mais vezes por ano. Assim, pode-se controlar melhor a qualidade da doação. "Seria uma melhora qualitativa e quantitativa também", diz Hamershlack.
No Hemocentro da Fundação Pró-Sangue de São Paulo, das cerca de 20 mil doações mensais, 90% são de doadores esporádicos e apenas 10% de regulares. Nos EUA, a proporção é inversa.
Para reverter este quadro, o Hemocentro envia cartas aos doadores após a primeira doação pedindo que voltem. Oferece também a vantagem de poder doar o sangue com hora marcada, sem enfrentar fila. Outra vantagem em estudo é o oferecimento de estacionamento gratuito para eles.
Na sexta-feira, Dia Internacional do Doador de Sangue, o Albert Einstein lança uma campanha para estimular os doadores regulares com uma homenagem aos seus colaboradores mais frequentes.
O hospital vai reunir essas pessoas, que receberão placas de prata dos beneficiados pelas transfusões.
"Talvez por causa das guerras, na Europa e Estados Unidos há uma cultura de solidariedade, onde os doadores vão aos centros regularmente. Aqui a maioria doa sangue para repor o usado por um parente", diz Hamerschalk.
Há ainda pessoas que buscam os bancos de sangue com a intenção de se submeter gratuitamente ao teste de HIV. Como a Aids só é detectada semanas ou até meses após a infecção, o teste pode não detectar o vírus e o sangue estar contaminado. É a chamada "janela imunológica".
Há várias opções de se fazer o exame de Aids gratuitamente, sem recorrer aos bancos de sangue. Em São Paulo, por exemplo, há hospitais da prefeitura e o Emílio Ribas.
Para Hamerschlack, os bancos de sangue brasileiros estão sendo eficientes na triagem de seu sangue desde 1987, quando tornou-se obrigatório por lei fazer o teste de HIV. "A má transfusão hoje é uma exceção", diz ele.
Segundo dados do Ministério da Saúde, de 1980 a abril de 1994 houve 2.157 casos de contaminação com o vírus da Aids através de transfusão de sangue. Os números estão em queda (ver quadro ao lado), principalmente em São Paulo.
Responsável por mais da metade dos 55.894 casos de Aids registrados no país até agosto deste ano, o Estado teve apenas 5 casos de contaminação por transfusão sanguínea nos primeiros quatro meses deste ano.
Segundo Hamerschlack, isto pode indicar que a contaminação esteja bem perto de zero, já que o balanço do governo são das pessoas que já desenvolveram a Aids, mas podem ter contraído o vírus anos antes.

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