São Paulo, domingo, 27 de novembro de 1994
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Vendas sustentam lucros das empresas

FIDEO MIYA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os balanços do trimestre julho-setembro de 1994, o primeiro do real, mostram que o crescimento excepcional dos lucros da maioria das companhias de capital aberto foi determinado basicamente pelo aumento nas vendas e pelos ganhos financeiros obtidos por empresas com dívidas em dólar, que foram reduzidas pela desvalorização de 14,6% da moeda em relação ao real nesse período.
É o que revela uma análise dos resultados das 33 principais empresas com ações negociadas nas Bolsas de Valores e balanços divulgados até dia 16 último. Ela foi feita pelo departamento de pesquisa de investimentos da Brasilpar Administração de Recursos.
Segundo o analista-chefe da Brasilpar, Francisco Petros, os bons resultados despertaram o interesse dos investidores, inclusive estrangeiros, pelos papéis de empresas privadas.
A avaliação de Petros, compartilhada pelos analistas do Banco Santander, Gustavo Campos Netto, e da Latininvest, Márcia Zugaib, é de manutenção dos lucros operacionais no quarto trimestre, com menores ganhos financeiros com o câmbio.
Os lucros do terceiro trimestre de 20 (61%) das 33 empresas apresentaram um crescimento médio de 1.576% sobre o mesmo período de 1993.
Essa média foi muito influenciada, porém, pela Teka (16.900%), Pirelli (5.750%) e Dixie Lalekla (2.600%), que tiveram lucros quase próximos de zero no terceiro trimestre do ano passado.
Outras nove (27%) passaram de uma situação de prejuízo para lucro e apenas 4 (12%) tiveram uma redução média de 21% nos lucros nesse período.
O crescimento médio do faturamento líquido no terceiro trimestre deste ano foi de 89,9%, em comparação com o mesmo período de 93, destacando-se a Eternit (327,6%), Refripar (286,7%) e Dixie Lalekla (214,7%).
O estudo da Brasilpar mostra que, no acumulado de nove meses, a expansão do faturamento foi menor, de 52,7% na média, o que evidencia o efeito do real.
Outro dado relevante da análise é a comparação da margem bruta de vendas, medida pela relação entre lucro bruto e faturamento.
O aquecimento do consumo após o lançamento do real não gerou uma elevação das margens de lucro, que na média permaneceram praticamente estáveis (27,4% no terceiro trimestre de 93 e 27,1% no mesmo período de 94).
Isso explica, segundo Petros, porque de julho a outubro os preços industriais subiram apenas 1%, enquanto os produtos agrícolas aumentaram 49% e o IPC-r registrou alta de 15,7%.
Outras 14 tiveram a rentabilidade sobre vendas reduzida. A queda mais dramática foi na Vale do Rio Doce (de 31,7% para 5,1%).
Petros resume os bons resultados após o real dividindo as companhias em três grandes grupos.
O primeiro é formado pelas empresas contempladas por um ciclo excepcional na demanda e nos preços externos de seus produtos. São os casos da Aracruz (papel e celulose) e da Copene (petroquímica).
O segundo grupo é integrado pelas empresas beneficiadas com a expansão do consumo interno, que permitiu o aumento do faturamento e das margens de lucro, como ocorreu com a Gradiente, Alpargatas, Cremer e Marisol.
Fazem parte do terceiro grupo as indústrias do setor siderúrgico (Acesita e as empresas do grupo Gerdau), que melhoraram sua rentabilidade operacional graças ao aumentos das vendas nos mercados interno e internacional.
No extremo oposto está a Varig. O ganho de US$ 447,4 milhões no terceiro trimestre cobriu prejuízos do primeiro semestre e permitiu fechar o balanço de nove meses com lucro de US$ 118,8 milhões.
A empresa informou que cerca de US$ 340 milhões são ganhos decorrentes da valorização do real.

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