São Paulo, domingo, 27 de novembro de 1994
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Um espermatozóide só faz verão

MARISA ADÁN GIL
DA TORCIDA À CERTEZA

Até bem pouco tempo, mulheres que não engravidavam tinham à disposição vários tratamentos, mas as opções eram poucas para homens estéreis. Nem a proveta resolvia –uma fertilização "in vitro" normal requeria espermatozóides em boas condições e em grande quantidade (no mínimo, dois milhões). Sem eles, a única saída era recorrer a um doador. Agora, a maioria daqueles considerados estéreis pode gerar filhos. Um espermatozóide solitário resolve. Em vez de torcer para que um entre milhões fure as paredes do óvulo, os médicos injetam um espermatozóide diretamente lá dentro. E esperam a concepção.

O que deve vir por aí
A idéia é simples e antiga. Mas foi só há um ano e meio que um grupo de médicos de Bruxelas desenvolveu a técnica e o equipamento necessários para realizá-la. Hoje, em cada dez casos de homens estéreis, oito a nove têm sucesso. No Brasil, o método vem sendo usado há cinco meses (leia ao lado): dos primeiros 64 casos, 47% deram certo. É só o começo. Estudos nos EUA trazem duas novas possibilidades de uso da técnica empregada no ICSI: 1) ela pode melhorar também as chances das mulheres estéreis, facilitando a fixação do embrião no útero; 2) no futuro, poderá ser usada para controle da transmissão de doenças hereditárias.

A via-crúcis do casal
Primeiro, o casal que não consegue ter filhos deve investigar as causas (a fase de exames dura até seis meses). Depois, pode tentar nesta ordem: tratamentos clínicos, cirúrgicos, inseminação artificial, fertilização "in vitro" e o ICSI –este último disponível na Clínica de Reprodução Humana Roger Abdelmassih (tel. 887-1555), que trouxe a técnica ao Brasil. Custa até R$ 8.000 por tentativa.
Todos os outros tratamentos (exceto fertilização com doadores) podem ser feitos gratuitamente nos hospitais Pérola Byington (av. Brigadeiro Luís Antônio, 683, tel. 232-0922) e das Clínicas (av. Dr. Enéias Carvalho Aguiar, 255, tel. 282-2811). No primeiro, não há espera –só uma triagem por idade (mulheres mais novas têm preferência). No HC, há uma fila de seis meses. Um bom guia para leigos é o livro "Tudo por um Bebê", (Siciliano, R$ 7,96), do médico Roger Abdelmassih.

Na foto ampliada, uma agulha (abaixo, mais grossa) segura o óvulo, enquanto outra (acima, fina) injeta o espermatozóide. Este é colocado no citoplasma do óvulo, onde se rompe e dá início à fertilização. Antes ddo surgimento da técnica do ICSI, era necessário torcer para que algum dos milhões de espermatozóides colocados junto ao óvulo atravessassem suas membranas e o fecundasse –agora, basta um gameta solitário para realizar o pequeno milagre

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