São Paulo, sábado, 3 de dezembro de 1994
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Equipe salta de ficha do Deops para o poder

GUSTAVO KRIEGER
DA REPORTAGEM LOCAL

A equipe de governo de Fernando Henrique Cardoso está registrada nos arquivos do antigo Deops (Departamento Estadual de Ordem Política e Social) como um grupo de perigosos subversivos.
O economista Pérsio Arida, que deve assumir a presidência do Banco Central, foi fichado pelo Deops com os codinomes de "Renato, Abel ou Daniel".
Segundo sua ficha, ele teria sido preso em 24 de setembro de 1990, na "esquina das ruas frei Caneca e marquês de Paranaguá", em São Paulo. Arida é acusado de "subversão e terrorismo"e acusado de pertencer ao grupo de luta armada VAR-Palmares.
Outro assessor de FHC preso sob acusação de subversão é o secretário-geral do PSDB, Sérgio Motta.
Coordenador da campanha de FHC à Presidência, Motta foi detido em março de 1965, com "material subversivo".
Segundo o Deops, Motta participava da reunião de um grupo de estudantes intitulado "Movimento do Graal", que preparava a rearticulação da organização de esquerda "Ação Popular". A reunião acontecia em um pensionato para moças, em São Paulo.
O economista Pedro Malan, que deve ser o próximo ministro da Fazenda, aparece em anotações do Deops como um dos articuladores do movimento de professores da USP, ao lado dos economistas Luiz Carlos Bresser Pereira e João Sayad.
Dossiê FHC
O próprio FHC é alvo de um grande dossiê. A primeira anotação é de novembro de 1951, quando ele tinha 20 anos e era tesoureiro do Centro Paulista de Estudos e Defesa do Petróleo, "cuja diretoria era composta de elementos esquerdistas".
Em maio de 1953, o Deops registrava o envolvimento de FHC com o Segundo Festival da Juventude Paulista, "conclave que revestiu-se nitidamente de características nitidamente subversivas".
O dossiê acompanha a militância e a carreira política de FHC e conclui que ele "sempre esteve ligado a movimentos, cuja natureza muito se assemelha aos de origem comunista".
O presidente eleito foi indiciado em 1964 em um Inquérito Policial Militar sobre "atividades subversivas" na USP (Universidade de São Paulo).
Em 2 de dezembro de 1971, a ficha do Deops dizia que FHC estava "desenvolvendo grande atividade para visitar os Estados Unidos" e recomendava que o visto lhe fosse negado.
Um relatório enviado ao Deops pelo Ministério da Aeronáutica dizia que FHC e outros intelectuais como Florestan Fernandes e José Arthur Giannotti se reuniam "em bares, onde se comentava a respeito da derrubada do atual governo".
Também ativa na militância política universitária, a primeira-dama Ruth Cardoso recebeu bem menos atenção do Deops.
Seu dossiê tem menos de dez anotações, quase todas referentes à participação em documentos de protesto assinados pelos professores da USP.
Jânio Quadros
Em março de 1965, foi aberto inquérito para investigar a participação de Jânio na campanha de Faria Lima para a Prefeitura de São Paulo. Agentes seguiam Jânio e registravam até mesmo seus passos mais insignificantes.
No dia 11 de março de 65, o vendedor Vicente Martinez foi chamado para explicar porque apertara a mão de Jânio durante uma caminhada do político na periferia de São Paulo. Martinez garantiu não ter trocado nenhuma palavra com o ex-presidente.
Os arquivos do Deops serão abertos à pesquisa pública na segunda-feira. Eles estão sob guarda do Arquivo do Estado do governo de São Paulo.

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