São Paulo, sábado, 3 de dezembro de 1994
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Exército espera FHC para deixar ação

FERNANDO RODRIGUES
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

O Exército ainda não recebeu um sinal do presidente eleito, Fernando Henrique Cardoso, a respeito da prorrogação ou não do convênio que criou a Operação Rio. Na dúvida, os militares seguem a preparação para deixar as ruas do Rio no dia 30. Nessa data termina o convênio que deu aos militares a coordenação do combate ao crime no Estado.
Essa preparação consiste em entregar relatórios sobre tudo o que foi realizado até agora para o governo estadual. O convênio foi assinado no dia 31 de outubro entre os governos federal e fluminense.
A Folha apurou que os militares não querem manter o convênio atual. Mas desejam uma saída sem traumas do Rio. Não querem ser responsabilizados por uma eventual alta no nível de criminalidade depois do dia 30.
A renovação do convênio depende de uma decisão dos governos federal e estadual.
Como os mandatos terminam em 31 de dezembro, a decisão sobre a permanência do Exército depende diretamente também dos novos chefes dos dois Executivos, que tomam posse em 1º de janeiro.
A idéia é ter tudo definido até a metade deste mês. A seguir, os três cenários previstos pelos militares para o Rio:
1) Sair no dia 30 - terminar a Operação Rio no prazo previsto. A saída das tropas seria total. Mas o Exército continuaria oferecendo ajuda às polícias estaduais nas áreas de informações reservadas e treinamento, além de oferecer armamentos emprestados.
2) Prorrogar o convênio - esse é o cenário menos desejado, pois os militares continuariam a ter toda a responsabilidade pelo combate ao crime no Rio. Acreditam que isso vai, no máximo, manter a situação atual como está. E, na pior das hipóteses, o Exército sairá com a imagem desgastada.
3) Novo convênio - embora não seja o desejo dos militares, esse parece ser o cenário mais provável para o desfecho da Operação Rio. Um novo acordo seria firmado, atenuando a participação de tropas do Exército nas ruas.
Treinamento
Para consumo externo, os militares vão continuar a dizer que cumprem a missão que lhes for atribuída. Nos bastidores, farão o possível para que vingue o cenário número um citado acima, de terminar o convênio no prazo inicial.
Para isso, têm se esforçado para criar um bom relacionamento com a Polícia Militar do Rio. Isso significa o fornecimento de armas e treinamento especial de combate.
Os policiais militares foram os primeiros a receber um lote de fuzis automáticos leves, conhecidos como FAL, do Exército.
A Polícia Federal enviou 25 agentes para treinamento no Rio. Isso ficou a cargo do Exército. Esses agentes receberam fuzis e coletes à prova de bala especiais.
Esse tipo de preparação, segundo a Folha apurou, se soma a um esforço da PM fluminense em realocar pessoal. A pedido do Exército, a PM está tentando reposicionar seus homens. Pessoal antes confinado a postos internos estão recebendo treinamento para voltar a patrulhar as ruas da cidade.
Tortura
O maior temor dos militares é o efeito das acusações de tortura. Moradores da favela do Borel, ocupada no fim-de-semana passado, disseram ter sido torturados por soldados.
O Exército nega, mas ainda não apresentou uma resposta convincente para o episódio. Uma investigação interna está sendo realizada. Os resultados estão para ser divulgados até semana que vem.
No caso de ser confirmado que algum soldado tenha praticado tortura durante a ocupação do Borel, o Exército planeja uma punição exemplar do culpado.

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