São Paulo, sábado, 3 de dezembro de 1994
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Para FHC, país precisa das "luzes da academia"

FERNANDO DE BARROS E SILVA
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

O presidente eleito Fernando Henrique Cardoso (PSDB) usou o seminário sobre "O Brasil e as Tendências Econômicas e Políticas Internacionais", ontem em Brasília, para fazer o maior elogio dos intelectuais desde que foi eleito.
"Precisamos das luzes da academia", disse FHC diante de 60 acadêmicos que o ouviram discursar por 25 minutos. Havia no ar um inequívoco clima de "República dos bacharéis". FHC sentou-se numa das extremidades da mesa e sua mulher, a antropóloga Ruth Cardoso, na extremidade oposta.
Ao final de sua fala, depois de dizer que vai ter que "fazer muitas reformas neste país", o presidente eleito conclamou todos os presentes, entre os quais alguns petistas, a colaborar com o futuro governo.
"Os erros serão meus, mas os acertos serão nossos. Que eu possa governar não só guiado pela razão, mas também pela emoção daqueles que acreditam num mundo melhor". Foi aplaudido.
Ao abrir o encontro, o ministro das Relações Exteriores, embaixador Celso Amorim, disse que FHC "sintetiza" aquilo que o sociólogo alemão Max Weber (1864-1920) chamou de vocação para a ciência e vocação para a política. FHC o corrigiu em tom irônico dizendo que faz "uma enorme ginástica entre as duas coisas".
Bem-humorado, o presidente eleito arrancou risos da platéia ao abordar a composição de seu ministério. "Infelizmente ainda não tenho ministros, mas quem sabe ao redor dessa mesa haja vários".
Só para o Itamaraty, onde o seminário se realiza, havia pelo menos três cotados: o sociólogo Luciano Martins e os ex-ministros Celso Lafer e Bresser Pereira.
A sessão de ontem teve três expositores. O economista norte-americano Colin Bradford falou sobre tendências atuais da economia mundial. O sociólogo espanhol Manuel Castells abordou as implicações sociais e econômicas da terceira revolução tecnológica ora em curso. Luciano Martins debateu a reorganização do poder mundial com o fim da Guerra Fria e a implosão dos regimes socialistas.
Salientando que o mapa internacional aponta para uma espécie de "desordem internacional", Castells disse que, ao contrário da revolução industrial do século 18, que agregou a força de trabalho, o atual "boom" tecnológico dispersa e dispensa a mão-de-obra.
Ao encerrar sua exposição, Castells sugeriu um novo lema adaptado aos dias atuais: "caos e progresso", uma brincadeira com a inscrição da bandeira brasileira.

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