São Paulo, sábado, 3 de dezembro de 1994
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'Quando saio para comprar pão encontro com um ou dois'

ANDRÉ MUGGIATI; CAROLINA CHAGAS
DA REPORTAGEM LOCAL

'Quando saio para comprar pão encontro com 1 ou 2'
Bombeiro acredita que réptil foi trazido no Pantanal ainda filhote
Funcionários da empreiteira CBPO que trabalham no local onde os jacaré foram vistos ontem disseram que eles já estão por ali há cerca de cinco meses.
"Eu sempre vejo um ou outro. Eles ficam perto de onde é despejado o esgoto para se alimentar", disse o motorista Milton Almeida Ferreira.
Vasco dos Santos, 35, que mora e trabalha no Jóquei-Clube de São Paulo, às margens do rio Pinheiros, também já conhecia os jacarés. "Todos os dias de manhã, quando eu saio para comprar pão, eu encontro com um ou dois."
Para o tenente do Corpo de Bombeiros Antônio Alves de Santanna, 54, os jacarés foram trazidos, ainda filhotes, do Pantanal. Teriam sido despejados no rio quando começaram a crescer.
A desempregada Conceição de Oliveira batizou o animal de "jacaré porco".
"Como ele aguenta essa água poluída?", questionou o gerente comercial Itamar de Oliveira, 36, que parou na ponte Eusébio Matoso para olhar o jacaré. "Para nós aqui fora já é difícil aguentar."
Especialista
"Além disso, eles são exotérmicos (obtêm calor do ambiente em que vivem), o que permite que se adaptem a todas as temperaturas de águas despejadas em rios poluídos como o Pinheiros e o Tietê."
Segundo o professor, existe um tipo de peixe vivíparo, o guaru-guaru, que consegue viver nas águas do rio e serve de alimento ocasional aos jacarés. "Ele mede entre 2 e 4 centímetros, vive próximo à superfície e é mais comum em épocas de enchentes."
Aguiar afirma que é muito difícil identificar o tipo de jacaré encontrado no rio. "Há cinco espécies na fauna brasileira e, dependendo de onde vivem, desenvolvem características diferentes, dificultando a identificação."
A forma como os jacarés chegaram ao rio também é um mistério para o pesquisador. Ele acredita que pode estar acontecendo na cidade um fenômeno ocorrido na década de 80 em Nova York.
"As crianças compravam jacarezinhos em feiras de animais exóticos e levavam para casa", diz. "Quando os pais percebiam que os bichos estavam crescendo muito, jogavam os répteis pela privada e eles acabavam nos rios."
(André Muggiati e Carolina Chagas)

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