São Paulo, segunda-feira, 5 de dezembro de 1994
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Itamar em festa

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Tudo bem que é a primeira lista de telefones do Rio, em onze anos. Mas não parece ser o bastante para juntar o presidente da República, "treze ministros, quatro governadores eleitos, o cardeal, políticos, artistas e empresários". Apareceu até Humberto Lucena, nas imagens de ontem, no Rio de Janeiro.
Uma explicação para tamanho aparato é que o organizador da "solenidade de lançamento do novo catálogo" foi José de Castro, o presidente da Telerj, o amigo do presidente. Castro que dizia com orgulho, na Manchete: "Nós fizemos renascer para o Rio de Janeiro o direito de ter sua lista telefônica."
Ótimo, mas a festa era mesmo de Itamar, ele que é "um admirador confesso da cidade". Mais importante, ele que lembrou a todos os cariocas presentes que os militares estão lá por uma decisão sua.
Itamar, faltando menos de um mês, está em festa e está de olho em seu lugar na história. A Globo entendeu logo e ressaltou que "o presidente falou da transformação do país em apenas dois anos".
Falou Itamar: "Quando assumimos, nós percebemos a falta de auto-estima do povo brasileiro. Eu não digo que o povo brasileiro tenha recuperado toda a sua auto-estima, mas nós pudemos observar uma transformação."
Semana tranquila
A presença dos militares no Rio vai ganhando ares de unanimidade, de êxito inabalável.
Sábado à noite, no morro do Urubu, os soldados fizeram 'à primeira vítima fatal", segundo a Bandeirantes. "Com um tiro de fuzil na cabeça", sublinhou a Manchete. Ontem os soldados "voltaram a revistar crianças no morro do Juramento", segundo a rádio CBN.
Pois nada disso sequer arranhou a avaliação positiva da Operação Rio. Como no início de uma das retrospectivas da semana, ontem: "O Rio teve mais uma semana tranquila, com incursões do Exército pelos morros da cidade".
Um mês atrás, a possibilidade de militares fazendo "incursões pelos morros" já era motivo de intranquilidade.

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