São Paulo, segunda-feira, 5 de dezembro de 1994 |
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'Minha vida tinha se acabado'
AURELIANO BIANCARELLI
"Abrir aquele envelope e ler de novo a frase 'Elisa reagente' foi tão duro quanto há três anos. Eu sabia que o teste era só uma representação, mas dentro de mim tinha ainda a expectativa de que desse negativo. Foi só um sonho. Quando cheguei no laboratório para fazer o exame uma funcionária perguntou se eu tinha pedido médico. Responde que vinha por vontade própria. Quatro dias depois fui buscar o resultado. Recebi um envelope fechado. Antes de abrir, disse à funcionária que estava preocupada e que gostaria de falar com um profissional que pudesse me orientar. Ela me explicou que só haveria médico na manhã seguinte, depois chamou uma enfermeira que se ofereceu para conversar, mas eu queria um médico. 'Volte amanhã', ela encerrou. Abri o envelope dentro do carro, como na primeira vez. Naquela ocasião, eu tinha feito o teste no laboratório Fleury a pedido do meu médico. Um primeiro exame tinha dado negativo e eu estava tranquila. Li o resultado enquanto dirigia pela avenida Brasil. Fiquei desesperada. Tudo que queria era chegar no meu médico. O laboratório ficava a uns dois quilômetros e eu dirigia em qualquer direção. Não sei como cheguei lá. Todos os meus sonhos estavam indo por terra, meus projetos universitários, minha vida tinha se acabado. Eu, com o envelope na mão, sem que alguém pudesse me ajudar, tentando dirigir no trânsito. Acho que um leigo não deveria abrir um envelope com um resultado tão importante. Eu poderia me matar ou matar alguém dirigindo. Sei de gente que tentou o suicídio. Hoje a gente sabe que uma pessoa com o HIV pode levar uma vida normal, apesar da discriminação. Eu estou bem, não tenho sintomas. Ainda não sei como peguei o vírus. Não uso drogas mas tive vários parceiros. Nunca consegui saber com qual deles me infectei."(AB) Texto Anterior: "Estava noivo e iria casar" Próximo Texto: Prefeitura espera 4.050 novas vagas até 96 Índice |
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