São Paulo, segunda-feira, 5 de dezembro de 1994
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PM e rappers tentam entrar em acordo durante debate em SP

PAULO HENRIQUE BRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

Representantes da Polícia Militar, do movimento negro e rappers participam quinta-feira de um debate na OAB para discutir a relação dos rappers com a PM.
O mote do debate são as recentes detenções de rappers em shows. No dia 26, sábado, a PM levou para a delegacia membros dos grupos MRN e do Racionais MCs, que tocavam em um show no Anhangabaú.
Os grupos foram acusados de desacato à autoridade e de incitar a violência contra a polícia em ofensas nas letras das músicas. Antes, em 15 de outubro, o rapper Big Richard timha sido detido pelo mesmo motivo.
Depois da interrupção do show do MRN não houve confusão, mas a platéia não teve a mesma calma quando pararam o show dos Racionais por causa da letra "O Homem na Estrada". A PM considerou ofensivo o verso que diz "não confio em polícia, raça do caralho".
"Parece que eles estavam esperando cantar a música para entrar em ação", diz Eugênio Lima, vocalista do Unidade Bop, que também se apresentou.
Com o fim do show, o público se revoltou e apedrejou os policiais. Houve confronto e um carro da polícia foi depredado. Policiais e espectadores tiveram ferimentos leves.
O grupo foi para o 3º DP, onde foi aberto inquérito por incitação à violência. "A culpa pela violência é da polícia", diz Milton Salle, empresário do grupo.
"O incidente ocorre depois que as músicas já são conhecidas, tocam no rádio. Por que será que o procedimento não é o mesmo para outros estilos musicais?", questiona Solimar Carneiro, coordenadora do programa de direitos humanos do Geledés, entidade do movimento negro.
Segundo o presidente nacional da OAB, José Roberto Batochio, a atitude da polícia foi ilegal.
"O direito de expressão artística é constitucionalmente assegurado. A polícia deveria questionar na Justiça a divulgação da obra, nunca usar a força."(Paulo Henrique Braga)

Rap nos Anos 90 e a Dignidade Humana no Relacionamento PM e Rappers. Quinta, às 14h na OAB, pça. da Sé, 385, 1º andar.

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