São Paulo, segunda-feira, 5 de dezembro de 1994 |
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Documentário devassa a síndrome Carmen Miranda
AMIR LABAKI
A atriz Letícia Monte interpreta Carmen quando adolescente e o transformista Erick Barreto compõe Miranda fazendo a América. O material documental inclui trechos de filmes e entrevistas de Carmen e depoimentos de amigos íntimos da atriz. Pouco conhecida no Brasil, apesar da filmografia com 13 títulos, Helena Solberg falou à Folha sobre seu filme. Folha – O que é a "Miranda Syndrome" cantada por Ruben Blades? Helena Solberg – É uma música. Existe tanta coisa sobre Carmen. Descobrimos um livro chamado "The Soul of Carmen Miranda Attaches Space Station Number 3", que tem ela na capa e reúne 21 histórias de autores diferentes, todas com uma coisa qualquer com Carmen. Folha – Carmen tinha consciência da imagem caricata do Brasil que dava aos americanos? Solberg – Não. Ela era extremamente ingênua. Quando começou a perceber, já era tarde. Para a gente é mais fácil ver com perspectiva, olhando o processo de política da boa vizinhança e entendendo como a figura dela calhou bem dentro daquilo tudo. As coisas na vida dela aconteceram numa velocidade vertiginosa. Folha – Por que o recurso a atores? Solberg – Gostei da idéia do "fake". Carmen de certa maneira foi um travesti cultural e achei que cabia usar essa imagem. Folha – Travesti cultural? Solberg – Por que ela supostamente ia representar o Brasil quando partiu, mas na verdade os americanos a fizeram representar uma América Latina fictícia, inventada por Hollywood. Folha – Qual o principal tesouro descoberto na pesquisa? Solberg – O material do Nicholas Brothers, dois famosos dançarinos negros americanos que trabalharam muito com Carmen e estão agora com oitenta e poucos anos. Eles tinham filmado um pequeno "road movie", com aquela camerazinha assim corrida. Estão numa estrada e ela dança em frente à câmera um charleston e está de short e lencinho na cabeça. É raro ver Carmen desprevinida. Folha – Você tem uma carreira de documentarista nos EUA e pouco conhecida aqui. Solberg – Mudei para os EUA em 1971 por razões de família. Meus filmes foram feitos para transmissão em rede nacional nos EUA. Fiz um sobre a Nicarágua ("From The Ashes-Nicarágua Today", 1981), outro sobre o Brasil, "The Brazilian Connection" (82), sobre a queda dos militares e as primeiras eleições, "The Forbidden Land" (90), sobre a tentativa do Vaticano extirpar a Igreja da Libertação no Brasil. O que me interessa é a América Latina. Texto Anterior: CD-Rom é opção divertida Índice |
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