São Paulo, segunda-feira, 5 de dezembro de 1994
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Documentário devassa a síndrome Carmen Miranda

AMIR LABAKI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

"Carmen Miranda, Bananas Is My Business", documentário da brasileira radicada nos EUA Helena Solberg, encerra hoje a mostra competitiva do 27º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. O filme recorre a flashes ficcionais para reconstituir a trajetória da mais importante estrela latino-americana a passar por Hollywood.
A atriz Letícia Monte interpreta Carmen quando adolescente e o transformista Erick Barreto compõe Miranda fazendo a América.
O material documental inclui trechos de filmes e entrevistas de Carmen e depoimentos de amigos íntimos da atriz. Pouco conhecida no Brasil, apesar da filmografia com 13 títulos, Helena Solberg falou à Folha sobre seu filme.

Folha – O que é a "Miranda Syndrome" cantada por Ruben Blades?
Helena Solberg – É uma música. Existe tanta coisa sobre Carmen. Descobrimos um livro chamado "The Soul of Carmen Miranda Attaches Space Station Number 3", que tem ela na capa e reúne 21 histórias de autores diferentes, todas com uma coisa qualquer com Carmen.
Folha – Carmen tinha consciência da imagem caricata do Brasil que dava aos americanos?
Solberg – Não. Ela era extremamente ingênua. Quando começou a perceber, já era tarde. Para a gente é mais fácil ver com perspectiva, olhando o processo de política da boa vizinhança e entendendo como a figura dela calhou bem dentro daquilo tudo. As coisas na vida dela aconteceram numa velocidade vertiginosa.
Folha – Por que o recurso a atores?
Solberg – Gostei da idéia do "fake". Carmen de certa maneira foi um travesti cultural e achei que cabia usar essa imagem.
Folha – Travesti cultural?
Solberg – Por que ela supostamente ia representar o Brasil quando partiu, mas na verdade os americanos a fizeram representar uma América Latina fictícia, inventada por Hollywood.
Folha – Qual o principal tesouro descoberto na pesquisa?
Solberg – O material do Nicholas Brothers, dois famosos dançarinos negros americanos que trabalharam muito com Carmen e estão agora com oitenta e poucos anos. Eles tinham filmado um pequeno "road movie", com aquela camerazinha assim corrida. Estão numa estrada e ela dança em frente à câmera um charleston e está de short e lencinho na cabeça. É raro ver Carmen desprevinida.
Folha – Você tem uma carreira de documentarista nos EUA e pouco conhecida aqui.
Solberg – Mudei para os EUA em 1971 por razões de família. Meus filmes foram feitos para transmissão em rede nacional nos EUA. Fiz um sobre a Nicarágua ("From The Ashes-Nicarágua Today", 1981), outro sobre o Brasil, "The Brazilian Connection" (82), sobre a queda dos militares e as primeiras eleições, "The Forbidden Land" (90), sobre a tentativa do Vaticano extirpar a Igreja da Libertação no Brasil. O que me interessa é a América Latina.

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