São Paulo, terça-feira, 6 de dezembro de 1994
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Terras baratas atraem gaúchos e goianos

JOSÉ ALBERTO GONÇALVES
DO ENVIADO ESPECIAL

O que atraiu gaúchos como Ênio Nogueira Becker, presidente da Lagovale (Cooperativa Agroindustrial da Lagoa), a migrarem para o Tocantins, além das várzeas, foi o preço baixo da terra.
Becker adquiriu sua propriedade em Lagoa da Confusão em 1984. Cada hectare vendido em Alegrete, na fronteira oeste do Rio Grande do Sul, possibilitou a compra de 30 hectares de terra bruta no Tocantins.
"Hoje um hectare no Rio Grande do Sul vale cerca de 20 hectares aqui na Lagoa", diz Becker.
Mas o preço baixo da terra bruta não viabiliza sozinho o retorno do investimento dos agricultores em suas lavouras.
Como as propriedades são extensas, os produtores arrendam partes delas para pagar o custo de implantação de seus projetos de irrigação, estimado em US$ 2.500/ha.
Outro problema enfrentado pelos agricultores é a falta de armazéns e agroindústria. A Lagovale deve inaugurar, até março de 95, um armazém com capacidade para guardar 600 mil sacas de arroz.
No ano que vem também deve começar a operar uma beneficiadora, com potencial para processar um milhão de sacas por ano.
O armazém e a beneficiadora integram o futuro complexo agroindustrial de arroz e soja, que está sendo construído pela Lagovale em Lagoa da Confusão, no valor total de R$ 4 milhões.
Fernando Luiz Pasqualini, 32, agrônomo, chegou a Gurupi em 85, vindo de Caxias do Sul (RS), para trabalhar com herbicidas.
Assumiu a gerência da Lagovale em outubro de 93, quando a cooperativa foi fundada. Ele e mais três técnicos agrícolas dão assistência aos agricultores de Lagoa da Confusão.
"Com a formação da cooperativa, estamos reduzindo os custos de produção e aumentando a produtividade das lavouras", afirma Pasqualini, que antes foi gerente da Cooperformoso.
Segundo Pasqualini, a cooperativa é essencial porque na região a rede privada de assistência técnica é precária.
No Projeto Formoso, em Formoso do Araguaia, os goianos são maioria na Coperjava e Cooperagran. Mas na Coperformoso, os gaúchos predominam.
Helmut Zellmer, 60, atualmente vice-presidente da Cooperformoso, foi um dos primeiros produtores a comprar terra no Projeto Formoso, em 1979, oriundo de São Borja (RS).
Dívidas
A Cooperformoso, primeira cooperativa do projeto, afundou em dívidas e deixou de operar em 1989.
Funcionário aposentado do Banco do Brasil, Zellmer foi o avalista velado da renegociação das dívidas da Cooperformoso, que voltou a funcionar em 91. "A cooperativa foi mal administrada", diz.
Zellmer conta que depois da renegociação das dívidas, a cooperativa renovou o maquinário, que estava sucateado.
Para a safra 94/95, Zellmer estima que a produção da Cooperformoso alcance 350 mil sacas de 60 kg de arroz, 22% acima do resultado obtido na safra passada.
Enquanto na Coperjava e Coopergran, formadas majoritariamente por goianos, os agricultores defendem uma ação mais individual dos associados, na Cooperformoso o estilo cooperativista é a marca.
Paulistas também compraram fazendas na várzea tocantinense. O médico Renato Paim, por exemplo, chegou à região em 1989 e adquiriu 4.000 hectares.
Nesta safra, Paim está semeando 1.600 hectares com arroz e arrendando outros 1.000 hectares.

Os jornalistas JOSÉ ALBERTO GONÇALVES e ADRIANA ZEHBRAUSKAS viajaram ao Tocantins a convite da New Holland.

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