São Paulo, quarta-feira, 7 de dezembro de 1994
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Juros do crediário vão aumentar

FÁTIMA FERNANDES; MÁRCIA DE CHIARA
DA REPORTAGEM LOCAL

O consumidor deve pagar mais caro pela compra a crédito e ainda corre o risco de ver o prazo de financiamento diminuído.
As novas medidas do Banco Central (BC) dificultam e encarecem os empréstimos das instituições financeiras para as lojas que querem bancar a venda a crédito ao consumidor.
"Os juros do crediário vão subir", prevê Alcides Tápias, presidente da Febraban (Federação Brasileira das Associações de Bancos). Na análise de diretores de grandes redes, as taxas de juros cobradas pelo comércio –que chegam a 12,5% ao mês, o que equivale a 311% ao ano– devem dar um salto. Para eles, as taxas subirão até um ponto e meio percentual.
Reunidos durante todo o dia de ontem, eles decidiram manter, por enquanto, os prazos do crediário -em até 12 vezes-, especialmente as empresas que trabalham com recursos próprios. Mas avisam: com o dinheiro mais caro, é impossível não aumentar os juros.
"Os juros vão subir de um a um ponto e meio percentual", diz Lauro dos Santos Jr., assessor da presidência do Mappin.
Ronaldo Wellisch, diretor financeiro da Mesbla, que financia em até três vezes, confirma a previsão do concorrente. Ele diz que com o aperto na liquidez, pode haver uma subida imediata nos juros.
"Não tenho dúvida de que as taxas vão subir pelo menos um ponto percentual", diz Alkindar de Toledo Ramos, presidente da Acrefi, que reúne as financeiras.
Segundo Santos Jr., até a última segunda-feira, o Mappin fazia uma operação financeira, junto com um banco, para escapar do compulsório e obter empréstimos para bancar suas vendas a prazo.
"Agora as novas medidas do governo impedem todas as operações de empréstimos e repasses de recursos por entidades financeiras. Talvez uma alternativa seja emprestar dinheiro de uma empresa não-financeira", diz ele.
Santos Jr. conta que a sua empresa vai continuar vendendo em até dez prestações em dezembro porque já tinha em mãos recursos para o financiamento.
O governo, no entanto, diz Ramos, da Acrefi, não vai conseguir conter as vendas a prazo neste final de ano com a subida dos juros.
Motivo: quem compra no crediário, pagando juros de 12% ao mês, não desiste porque a taxa subiu para 13%.
Para ele, essas medidas podem afetar mais as vendas pela redução do número de prestações.
O Mappin diz que vai seguir de perto a concorrência. Se as lojas diminuírem os prazos do crediário, a loja também diminui. Até ontem, o Mappin financiava a venda em até dez prestações, com juros de 8% a 10% ao mês.
Sem efeitos
João Alberto Ianhez, diretor da rede de lojas Arapuã, diz que o efeito das medidas do governo para conter o financiamento será mesmo o aumento dos juros.
A Arapuã, diz ele, vai continuar financiando a compra do cliente em até 12 vezes. Os juros são de 10% ao mês. "Não mexemos nos prazos porque temos recursos para bancar a venda a crédito."
Boa parte do comércio tem dinheiro para bancar os financiamentos com recursos próprios, diz Emílio Alfieri, economista da Associação Comercial de São Paulo.
"Essas medidas não nos afetam", diz João Bosco Cordeiro, gerente do Magazine Luiza.
Como a empresa está capitalizada, diz Cordeiro, ela consegue financiar com recursos próprios as vendas com prazos mais longos. Isto é, em até oito vezes, cobrando juros de 12% ao mês. Nos negócios em até três vezes, a loja repassa o financiamento para uma empresa de crédito.

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