São Paulo, quarta-feira, 7 de dezembro de 1994
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Natal de beisebol, torta de maçã e computador

MARINA MORAES
ESPECIAL PARA A FOLHA DE NOVA YORK

Passeando pelas ruas de Nova York, a gente logo percebe a transformação: as lojas de eletrônicos que enfatizavam a venda de TVs, telefones e videocassetes trataram de arrumar espaço nas vitrines para os computadores.
Ninguém quer perder a febre natalina da multimídia. Um crítico observou a correria e concluiu: não há nada mais americano que beisebol, torta de maçã e microcomputador.
Ao final de 94, os Joes e Marys daqui terão torrado US$ 9 bilhões para comprar quase 7 milhões de unidades, um fenômeno só comparável ao da invasão dos videocassetes nos anos 70.
Mesmo assim, só 36% dos domicílios têm computador. Há muito espaço para crescer.
Por que, de repente, tanta gente decidiu que não dá mais para viver sem ter um?
A resposta é complexa: dos preços à preservação do status. Os preços, obviamente, tiveram um papel decisivo. Dia desses um amigo comentava, perplexo, que tinha visto num anúncio de jornal um notebook colorido da Toshiba por US$ 1.500. O mesmo que ele havia comprado algumas semanas antes por US$ 2.500.
Quem não gosta de sofrer nas comparações que as faça só antes de comprar: é quase certo que você encontrará mais barato em outro lugar o produto de informática que está carregando para casa.
Pelo menos em Nova York, os preços flutuam violentamente, ao sabor da briga de foice dos fabricantes e das lojas.
É curioso observar a devastação que alguns leitores praticam nas edições semanais do caderno de Ciência do "The New York Times", aquele mais carregado com os anúncios de informática. Tesoura na mão, eles recortam ofertas de uma loja para apresentar na concorrente e desafiá-la a baixar o preço. Muitos se dão bem.
Além do preço, há outros fatores que empurram os americanos para seu primeiro computador. Eles agora têm o que fazer com a máquina. Antes, a secretária que digitava as cartas no escritório não queria saber –e nem precisava– de um computador em casa. Agora, com os sistemas que trazem embutidos o CD-ROM e o modem, ela pode dividir o uso da máquina com o marido e os filhos.
Enquanto o pai usa um programa para fazer a contabilidade doméstica, o Júnior consulta uma enciclopédia em CD e a secretária pode trabalhar sem sair de casa, recebendo e transmitindo informações via linha telefônica.
Aliás, o congestionamento em casa é responsável por um segundo fenômeno: uma empresa de pesquisas descobriu que 16% das famílias que compraram um computador multimídia já investiram num segundo, atendendo a pedidos das crianças da casa.
O que nos leva a mais um fator que empurra as vendas de computador para a estratosfera.
A percepção popular, criada pela mídia, de que uma criança é semi-analfabeta se não souber lidar com um computador antes dos dez anos de idade.
Hoje em dia, o pai ou mãe americano que procura escola para os filhos pergunta antes se tem computador –e só depois sobre o currículo. Quando pergunta.
Bombardeada de todo o lado pela mídia, que anuncia a chegada da idade da informação, a classe média anda mais ansiosa e insegura do que o normal.
Tem pai colocando filho diante do teclado e monitor aos três anos de idade. E pensar que já tem software para pimpolhos que mal deixaram de molhar as calças.

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