São Paulo, sábado, 10 de dezembro de 1994
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A orquídea em flor

LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

As comunidades católicas celebram, com grande alegria, na data de 8 de dezembro, a festa da imaculada Conceição de Maria. Deus escolheu para ser mãe de seu filho Jesus, salvador do mundo, "uma virgem desposada com um varão chamado José, descendente de Davi, e o nome da virgem era Maria" (Lc 1,26,27).
Ora, convinha que Maria, destinada a tão grande missão de mãe do redentor, fosse, desde a sua concepção, cumulada das graças de Deus, "Cheia de graça" (Lc 1,28). A única razão de sua singular santidade é, portanto, o próprio Cristo. Maria deveria ser imune de todo pecado, para tornar-se o tabernáculo santo de Jesus, filho de Deus.
Essa doutrina que a Igreja professou ao longo dos séculos foi, em 1854, solenemente proclamada por Pio 9º: "A beatíssima Virgem Maria, no primeiro instante de sua concepção, por singular graça e privilégio de Deus onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo salvador do gênero humano, foi preservada imune de toda mancha do pecado original". Assim, Maria não sofreu, como nós, o efeito da desobediência dos primeiros pais que nos transmitiram a natureza humana sem a santidade e justiça originais. Em Maria brilha a alegria da criatura que se volta livremente para a bondade de Deus e a ele obedece com confiança e amor.
Nossa primeira resposta ao desígnio gratuito de Deus é de gratidão profunda porque em Maria a criatura humana foi elevada também à santidade. Ela é imaculada. Eis aí a prova da força da redenção de Cristo que não somente perdoa nossas faltas, mas é capaz de preservar Maria de todo pecado.
Ela é, assim, a imagem da Igreja "sem ruga e sem mancha, santa e irrepreensível" (Ef 5,27). Diante da presença e universalidade do pecado na história da humanidade, vemos em Maria a vitória do amor e da graça de Deus. Nasce daí para nós a certeza de que é possível, pelos méritos de Cristo, superar tentações e a inclinação do mal e levar uma vida moralmente santa no mundo injusto e violento em que nos encontramos.
A segunda consideração refere-se à Conceição de Maria. Está é uma lição necessária, quando não poucos tentam até eliminar a vida humana no seio materno. Louvamos a Deus que santifica Maria desde o instante de sua concepção e que revela a dignidade da pessoa, desde o primeiro momento em que se constitui o novo ser. Quem celebra a imaculada Conceição de Maria assume o compromisso de promover a dignidade de cada pessoa humana desde o primeiro instante de seu surgimento.
A teologia dessa festa litúrgica faz-nos, ainda, descobrir em Maria a única criatura "plena de graça" e, portanto, reconhecer o valor da presença feminina e a beleza da maternidade no plano da salvação.
Nos últimos meses foram fortes as secas e queimadas no interior de Minas Gerais. Em alguns lugares a paisagem era desoladora. Qual não foi a surpresa ao ver uma belíssima orquídea em flor, sozinha no meio das cinzas e arbustos enegrecidos. Mensagem de esperança.
Pensei em Maria. Ela é a flor da humanidade. Sua imaculada Conceição, no meio deste mundo entristecido, ensina-nos a acreditar na ação vivificadora do Espírito Santo que vence todo pecado e faz de novo nascer o perdão, a justiça e a paz.
Com a primeira chuva brotou a vegetação em volta da orquídea. Possa, também, à imitação de Maria, crescer a vida da graça em cada um de nós e na transformação da sociedade.
D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.

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