São Paulo, domingo, 11 de dezembro de 1994
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Morte de Tom esvazia os bares

LUIZ ANTONIO RYFF; VINICIUS TORRES FREIRE
ENVIADOS ESPECIAIS AO RIO

Na noite de sexta-feira, os redutos mais tradicionais da boemia no Rio ficaram vazios. Nas mesas, a conversa obrigatória era a morte, quinta-feira, de Tom Jobim.
Os principais bares da cidade não lotaram. Só os redutos da juventude tinham movimento intenso. Os antigos pontos do compositor estavam vazios: a Cobal do Leblon (zona sul) não abre à noite, o Garota de Ipanema (Ipanema, zona sul) e a churrascaria Plataforma (Leblon) estavam com poucas mesas ocupadas.
Movimento houve entre os funcionários da prefeitura. Durante a noite, eles trabalharam na troca das placas da av. Vieira Souto, a mais importante rua de Ipanema (zona sul), que passou a se chamar avenida Tom Jobim.
O nome da avenida, que acompanha a orla da praia, foi alterado por um decreto do prefeito César Maia. A mudança provocou curiosidade. Algumas pessoas fotografavam as placas da esquina da rua Vinicius de Morais com avenida Tom Jobim –parceiros de músicas e, agora, de endereços.
Amigos
Após o enterro do compositor, na sexta-feira, alguns dos seus companheiros se reuniram na churrascaria Plataforma.
A "mesa do Tom" é a primeira à direita, logo na entrada. Na mesa ao lado, os atores José Lewgoy e Hugo Carvana, o escritor Eric Nepomuceno, a sambista Beth Carvalho, os jornalistas João Luis Albuquerque e Marta Alencar e o cineasta Arnaldo Jabor, entre outros, homenageavam o amigo com uma das coisas que Tom mais gostava, um bom papo.
"Certa vez, o Lewgoy e o Tom fizeram um concurso de poesia parnasiana aqui. O Tom estava perdendo e começou a inventar poemas na hora. Inventava autor, editora, data de publicação e ainda dizia se o livro estava esgotado", recordou Nepomuceno.
José Lewgoy lembrava o amigo. "Sentávamos na mesma mesa. Fomos companheiros de todos os dias. E não conversávamos coisa séria, só besteira", contou.
Nepomuceno disse que pediria ao dono do restaurante, Alberico Campana, para colocar uma placa de bronze sobre a "mesa do Tom", homenagem semelhante à que foi feita no "Floridita", bar em Havana frequentado pelo escritor americano Ernest Hemingway.
Lewgoy avisou que não ficaria para o jantar. Marta e Hugo saíram logo depois. Antes das 23h os amigos tinham ido.
"Preferia perder a Plataforma a perder o Tom. A Plataforma é apenas o meu sustento. O Tom é muito mais", disse Campana, levantando da mesa e indo embora.

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