São Paulo, quarta-feira, 14 de dezembro de 1994
Texto Anterior | Índice

Corrupção tirou US$ 20 bi do país, diz CEI

LUCAS FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A CEI (Comissão Especial de Investigação) apurou que nos últimos quatro anos a remessa ilegal de dólares ao exterior chegou a US$ 20 bilhões, o que equivale a 15% da dívida externa do Brasil.
O dinheiro, resultado de negócios do narcotráfico, jogo do bicho, tráfico de armas e sobras de campanhas eleitorais, sai do país através de "instituições financeiras oficiais e fantasmas" e vai parar em paraísos fiscais.
Esta é a principal conclusão do relatório parcial divulgado ontem pela CEI, que aponta um "superesquema" de corrupção no país.
O Ministério da Fazenda já recebeu um relatório sigiloso da comissão em parceria com a Polícia Federal sobre a evasão de dólares.
No documento, é sugerida uma série de medidas que seriam tomadas no âmbito do CMN (Conselho Monetário Nacional).
Como resultado das investigações no Executivo, a medida mais drástica sugerida pela comissão é a renegociação de todos os 657 contratos em andamento entre DNER (Departamento Nacional de Estradas de Rodagem) e empreiteiras.
Segundo o presidente da comissão, o ministro da Administração Federal Romildo Canhim, "talvez seja preciso mexer na direção do DNER".
Os envolvidos no "superesquema" de corrupção no Executivo vão de empresários a funcionários e dirigentes de órgãos públicos.
Os órgãos envolvidos nas irregularidades são: ministérios do Bem-Estar Social, Transportes e suas estatais, Educação, Integração Regional, Saúde e Dnocs (Departamento Nacional de Obras Contra a Seca).
A comissão também finaliza esta semana um dossiê de 40 páginas apelidado de "livro branco da corrupção", que pretende ser um manual para o próximo governo sobre os caminhos das irregularidades envolvendo funcionários públicos, empresas e órgãos do Executivo.
"É preciso que se crie uma política anticorrupção no país, pois o esquema empregado atualmente é sofisticadíssimo", disse Canhim.
Segundo ele, a absolvição do ex-presidente Collor pelo STF é prova de que as Comissões Parlamentares de Inquérito não conseguem detectar todas as irregularidades envolvendo o Executivo.
Muitos dos casos apurados pela CEI serão encaminhados ao Ministério Público para abertura de inquéritos e posterior oferecimento de denúncias junto à Justiça.
A Folha apurou que integrantes da comissão estão negociando com membros do futuro governo a continuidade das investigações e preservação dos documentos que apontam as irregularidades.

Texto Anterior: Movimento pede ética na Justiça
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.