São Paulo, quarta-feira, 14 de dezembro de 1994
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Não depende só dos médicos

REGINA CARVALHO

Em recente artigo publicado pela Folha o presidente da Associação Paulista de Medicina defendeu o questionável e polêmico exame de avaliação do profissional médico recém-formado como panacéia para solucionar o caos em que se encontra a atenção em saúde no país.
Como médico, o dr. José Knoplich sabe que de nada adianta combater um sintoma apenas, sem diagnosticar a causa da patologia.
Estamos em meio a uma crise sem precedentes do setor saúde. As cenas e números do caos têm sido cotidianamente registrados, como o fechamento de hospitais, desativação de leitos, morte em filas de espera, macas nos corredores, falta de médicos e equipamentos essenciais, além de outros impactos resultantes, sobretudo, da retração dos investimentos públicos em saúde.
Sabemos que cada número, cada notícia, esconde dramas pessoais, o desespero de cidadãos a quem é negado o direito à saúde. Muitas vezes é sobre o profissional de saúde e, principalmente o médico, que recai o peso desta realidade. O médico tem sido culpabilizado, inclusive por alguns governantes, como responsáveis pelas mazelas do sistema.
É importante dizer que ele também é vítima do caos, seja pelos baixos salários que recebe, pelas péssimas condições de trabalho a que está submetido ou pela impotência diante do sofrimento do paciente.
Mas também é direito da sociedade questionar e exigir qualificação de um profissional que tem nas mãos a vida das pessoas. Afinal trata-se de um contrato onde à confiança do paciente deve corresponder a consciência e competência do médico.
Concordamos que estão sendo lançados no mercado médicos cada vez mais despreparados. A causa disso vem de longe, quando se propiciou a multiplicação das escolas médicas, a maioria privadas.
Problemas com a formação docente, instalações precárias, falta de equipamentos, escolas destituídas de práticas de pesquisas, com hospitais não-adaptados ao ensino, tornaram-se frequentes.
É um equívoco defender o exame de auto-avaliação voluntário. Tal prática, cognitiva e pontual, não contribui em nada para a melhoria da qualidade do ensino médico e da assistência prestada à população.
O processo de avaliação do profissional deve ser permanente, contínuo, envolvendo aspectos éticos, a relação médico-paciente e suas habilidades no exercício da medicina. Mas deve, sobretudo, ter início no aparelho formador, na escola de medicina, onde têm origem as mais graves distorções.
O Código de Ética Médica estabelece os princípios que regem a prática dos médicos habilitados pelas faculdades, o seu cumprimento é cobrado ao longo de toda a carreira do profissional. Por isso cabe às instituições empregadoras proporcionar condições de reciclagem a aprimoramento permanente.
Regina Ribeiro Parizi Carvalho, 39, médica sanitarista, é presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo.

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